Conversa sobre medida costuma não me agradar. Tenho qualquer coisa de avesso às medidas. Mas todo caminho tem uma curva e eis-me aqui a falar de mensuras. É que tem coisas tão bonitas que merecem concessões. Não há por que fazer alarde, a estrada não é tão sinuosa assim – vou deixar a régua e compasso bem guardados na gaveta. A medida aqui não é de coisas extensas, mas de intensidades.
Por mais que eu não mande no meu destino, por mais que eu não seja mais do que a sombra de um corpo que se move por si mesmo, há em mim qualquer princípio de atividade. Acompanho com esforço aquilo que me acontece, não me deixo à reboque. Procuro com atenção os limites que devo respeitar e os que devo cruzar: estou em contato com o mundo e me vejo atravessar e, por vezes, ser atravessado por ele.
Meu universo exige de mim um lugar, uma posição. Mas como não sou um, sou vários, estabeleço em cada ponto uma medida de envolvimento. Sou o ponto de cruzamento de inúmeros afetos. Não faço tábula rasa, determino a altura e a grandeza de cada um deles, construo um mapa onde encontro as distâncias corretas.
Sou um modo de envolvimento e escolho a minha medida. Faço alongar instantes, faço conversar ideias, faço aproximar pensamentos, faço acelerar encontros, faço mergulhar afetos, mas sei também sair pela tangente. Segundo a medida de meu envolvimento, me encontro um pouco mais à beira do assento ou um pouco mais relaxado no encosto.
Medo da medida, mas mesura pelo envolvimento. Os números não me atraem, mas estou sempre encontrando a distância correta, meço com meu corpo. Minha régua não traça linhas retas, que permitem separações, ou fronteiras fortificadas. Ela carrega consigo apenas a medida do envolvimento.
O envolvimento é a nota fundamental do acontecimento. Os fatos me permeiam, mas poucos deles ressoam em mim. Os fatos se compõe na medida de meu envolvimento com eles. Se me entrego disperso a eles, perco consistência, deixo passar, me desfaço em perpétua distração. Se me envolvo, mil mundos possíveis se abrem, meço atentamente fato por fato.
Maravilhoso ! – como sempre –
bjs
Fy Neal