As plantas são o lado esquecido da filosofia, negligenciado, deliberadamente colocado à parte. Claro, afinal, somos animais pensantes, disseram todos os filósofos, não temos tempo para estas coisas verdes. E para desprezar mais ainda, dizem, “podemos ser caniços, mas ao menos somos pensantes”; ou seja, podemos ser frágeis, mas temos cérebro e é isso que importa. Certo, mas nós temos uma pergunta: onde este tipo de pensamento nos leva? Afinal, todo pensamento carrega consigo um modo de vida.
Quando Nietzsche dizia que queria naturalizar o homem e desumanizar a natureza, no que ele estava pensando? Ora, talvez a resposta esteja no lugar mais inusitado de todos, na vida vegetal. É possível filosofar com ela? Ou melhor, as plantas são capazes de filosofia? Talvez sim, pensemos por um instante: Nosso mundo foi por muito tempo uma pura consequência vegetal, o ar que respiramos ainda é um exemplo disso, bem como móveis, instrumentos, roupas e muitas outras coisas. Devemos nos inclinar a elas então e perguntar: o que é a existência? Talvez elas tenham a resposta, e talvez sua resposta seja bem mais interessante do que a nossa.
“Mas elas não possuem mãos! Como podem fazer isso?”, dizem os antropocêntricos, “Elas não possuem cérebro!”, se irritam os cabeçudos eruditos. Pois é, parece estranho, uma vida pura, na sua forma talvez mais essencial, ser capaz de tantas coisas que nós nem imaginamos. Voltamos sempre à pergunta de Espinosa: o que pode um corpo na sua pura potência? Ainda não sabemos! Estamos falando de uma energia de criação, de uma potência, um esforço, talvez até um elã vital.
Este livro pretende reabrir a questão do mundo a partir da vida das plantas”
– Emanuele Coccia, A Vida das Plantas, p. 34
Sim, o livro de Emanuele Coccia quer filosofar com as plantas. Para isso, a primeira coisa que deve ser feita é quebrar o juramento que fizemos a Protágoras: pois é, há séculos atrás juramos sem perceber que o homem seria sempre e inquestionavelmente a medida de todas as coisas. Mas se as plantas foram as primeiras a chegar, talvez elas tenham as chaves do entendimento do que é a realidade. Talvez seja interessante lhes dar a palavra e ouvi-las, nem que seja por um breve instante, como um breve experimento do pensamento. Talvez nós sejamos apenas um desvio da vida vegetal (uma versão movente e ansiosa delas), talvez, se chegamos atrasados, deveríamos humildemente nos sentar e escutar, nem que seja uma única vez.