Minha vontade não resulta necessariamente na minha potência. Daí se originam boa parte das minhas tristezas. É a mera possibilidade, entretanto, que nutre o conatus, o esforço que se dá em mim na direção da realização. Eis porque o triste, apesar de nada me ensinar, não me afasta da vontade de viver. A tristeza quando se dissolve e me proporciona pelo contraste uma dimensão da alegria de que sou capaz, me impulsionando assim a buscar os bons encontros.
Não há obstáculo maior do que aquele posto entre o ser e sua potência. Tão edificante é o que se coloca pela natureza e tão revoltante é o imposto pelo homem e sua organização. A moral que o transcende termina sempre por subjugar este homem que se deixa impedir, ou melhor, que se quer impedido, inválido e doente. Suas criações tornam-se seus grilhões, seu pensamento, suas amarras.
É como o enorme abismo que separa o pássaro que não voa porque não aprendeu daquele que não voa porque cortaram-lhe as asas. Estes pássaros não se encontrarão tão cedo pairando juntos acima da bela infinitude, que é o abismo visto de cima. Enquanto o primeiro certamente voará no momento oportuno, o último sequer sabe se sobreviverá, pois foi mutilado, incapacitado, suprimido e separado daquilo que podia.
Amei o texto! Muito breve mas bastante impactante para reflexão cotidiana.