As coisas são decerto belas de ver; porém ser uma delas é algo completamente diferente”
– Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação II, cap46
Schopenhauer procura por alguma maneira de não ser tragado pelo abismo da Vontade, de resistir a ela. Pela estética, Schopenhauer encontrou um caminho. O mundo é demasiado cruel para ser encarado de frente, sua face é horrenda. Se viver é difícil, lidar com a falta de sentido é impossível. O Gênio é o personagem conceitual criado pelo filósofo alemão capaz de realizar tal proeza.
A essência do gênio consiste na sua capacidade de contemplação, reside na sua habilidade de escapar deste mundo insensível mesmo que por alguns breves momentos. Como isso é possível? O excedente de intelecto o torna um sujeito purificado da Vontade. E encontro com o sublime é a satisfação e a alegria do simples conhecimento intuitivo enquanto tal, que ganha força e se opõe à Vontade. No sublime nos elevamos para além do indivíduo, e, portanto, para além das angústias e dores do mundo.
O gênio, por sua vez contempla um outro mundo, diferente de todos os dos outros”
– Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação II, cap. 31
Torna-se gênio aquele que leva o conhecimento para além do serviço da Vontade. Aquele que se torna capaz de fazer do intelecto uma maneira de fugir dos desígnios deste ímpeto cego. O conhecimento genial está purificado do querer. Se a Vontade direciona o intelecto para seus fins, o gênio faz outro uso dele, um uso próprio. Aqui está a grande sacada, se a Vontade utiliza o intelecto e a Razão para seus desígnios, é possível fazer uma revolução, é possível revoltar-se contra os usos da Vontade e descolar o intelecto dela.
O gênio é o intelecto que tornou-se infiel à sua destinação”
– Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação II, cap. 31
A cosmologia de Schopenhauer começa aqui a nos guiar para o lado da Ética e da Moral. A figura do Gênio nos mostra o caminho propício a se perseguir, nos livrar o máximo possível das influências deste mundo. Não poderia ser de outra maneira, enfrentamos um inimigo impossível de vencer, podemos apenas nos esconder o quanto possível. Utilizar os instrumentos da Vontade contra ela, rebelar-se, ser infiel aos seus desígnios. Talvez assim tenhamos um pouco de paz. O gênio quer apenas escapar do sofrimento trilhando outro caminho.
Se nada faz sentido, então o melhor a se fazer é esconder-se e contemplar. Esta é uma das maneiras que o filósofo pessimista encontra de se segurar neste mundo, um remédio, um alento. Ele se faz exceção, porque são muito poucos aqueles que possuem tal intelecto para se colocarem contra a sua tendência original. O gênio pode dizer: a vida é bela, mas apenas como fenômeno estético; fora isso, é caos e barbarismo.
No todo e em geral, a melancolia que acompanha o gênio repousa no fato de a Vontade de Vida, quanto maior for a clareza do Intelecto no qual encontra-se iluminada, tanto mais distintamente percebe a miséria de seu estado”
– Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação II, cap. 31
O Gênio vive em outra realidade, por isso, aparenta não ter serventia para a vida, e dificilmente encontra semelhantes no mundo. É muitas vezes visto como louco. Daí sua solidão, poucos conseguem acompanhar seu pensamento. Ele é feliz apenas em sua própria companhia, nunca com os outros. Isso porque se livrou de grande parte do mundo, precisou extirpar este câncer chamado realidade, vir-a-ser, tornou-se impessoal, um espelho do mundo, uma fonte pura. Suas obras são maneiras da ideia se expressar. Para conseguir viver desta maneira, precisou negar o corpo. A Negação do corpo será tentadora e nos conduzirá para consequências muito maiores: negação da Vida e negação do Mundo.
Schopenhauer viu o pior do mundo e se enojou, o negou, não aceitou, não conseguiu suportar encarar o abismo da existência. Não soube o que fazer depois, seu mergulho foi profundo demais, não estava preparado, voltou contaminado, traumatizado. Já não tinha forças para afirmar novos valores. Por isso a criação de uma filosofia do consolo, uma ética do “fazer o quê?”, para enfrentar o mundo abominável que olhava de sua janela.
Se a vontade é cega e sem finalidade em um momento o que a faz quase ‘invencível’ quando encontra um ‘motivo’ entre os objetos?
Pq Schopenhauer, leitor de Espinosa, propôs a autonegação da Vontade, dssconsiderando totalmente o Afeto ação?
Torna se suplemo entre os objetos, jamais escravo deles. A transcendência é nossa meta, nos chamamos superação emum mundo caótico.
Se é pra falar de schoppenhauer por uma perspectiva nietzscheana, melhor não fazer
Schopenhauer propõe a negação da vontade como fuga dos sofrimentos do mundo. Neste ponto podemos encontrar paralelo com a filosofia budista e o pensamento tão próprio do oriente. É uma atitude diferente de Nietzsche. Para este ultimo o homem deveria procurar a superação através da exacerbação de. Sua condição humana, da racionalidade, da auto confiança. As atitudes desses dois grandes filósofos, em relação à vida e ao mundo, são diferentes, embora partam do mesmo principio e das mesmas perguntas e angústias.