“Os tiranos, quanto mais pilham mais exigem; quanto mais arruínam e destroem, mais se lhes oferece (…); mas se nada se lhes dá (…), semelhante à árvore que, recebendo mais sumo e alimento para sua raiz, em breve é apenas um galho seco e morto”
– La Boétie, Discurso da Servidão Voluntária
Como é possível uma servidão voluntária? Em outras palavras, como é possível uma pessoa aceitar ser escrava da outra? Afinal, não é estranho que tantos se submetam a tão poucos? E o mais surpreendente e nefasto: perceber que tudo isso acontece voluntariamente! Não, não é possível! Sendo assim, a servidão é um enigma a ser desvendado. Sobretudo porque a natureza lhe recusa a maternidade, e a língua se recusa a nomeá-la e nós nos recusamos a vê-la. Mas, por trás de sua aparente irracionalidade, existem razões que estão para além do senso comum. É com a finalidade de responder a estas perguntas que o francês Etienne La Boétie escreveu em 1552 o “Discurso sobre a Servidão Voluntária”.
Apenas compreendendo este fenômeno em todos os seus aspectos será possível encontrar uma alternativa à servidão. Com o propósito de realizar uma verdadeira psicologia do poder e sua maneira de atuar sobre nós. Em suma: Por que servimos voluntariamente? É esta questão que nossa série de textos pretende responder. Primeiramente fazendo uma análise da servidão. Em seguida, procurando compreender por que a servidão é voluntária. E, finalmente, procurando oferecer uma alternativa à servidão. Será que existe outro modo de vida e outra possibilidade de se relacionar com os outros? O Discurso da Servidão Voluntária possui algumas respostas.