O ano de 1968 também abalou o socialismo. A luta era contra toda e qualquer forma de opressão e sabemos bem que ela pode vir tanto da esquerda quanto da direita.
Durante a guerra fria, o rearmamento continuava a ser prioridade. As metas na Tchecoslováquia eram cada vez maiores, o Estado se utilizava de propaganda e patriotismo para manter o país integrado sob uma mesma ideologia e continuar crescendo. Ainda assim, mesmo celebrando o comunismo, a maioria das pessoas ainda vivia na pobreza ou na miséria e na superlotação.
Em fevereiro de 1968, os reformistas da Tchecoslováquia assumiram o poder. Alexander Dubcek parecia um comunista leal que alteraria apenas o que era necessário. Eles acreditavam que o comunismo podia ser reformado, o partido não lideraria por força, haveria liberdade de imprensa e também uma espécie de economia de mercado: “socialismo com um rosto humano“. Os jornais começaram a denunciar crimes da Rússia stalinista e pessoas começaram a se reunir nas ruas para comentar. Suas reformas chocaram o resto do mundo comunista.
As raízes da Primavera de Praga vão de março a abril. Dubcek promoveu reformas na agricultura e na indústria, diminuição da censura, permitiu que os cidadãos tirassem passaporte, abriu canais de TV, instituiu direito à greve e iniciativas privadas. Também foi permitida liberdade religiosa, e formação de partidos políticos. As pessoas estavam se permitindo coisas proibidas. Havia contrabando de discos com músicas ocidentais, principalmente rock’n’roll. Os jovens estavam criando suas próprias regras, as famílias estavam perdendo o controle de seus filhos. Até mesmo coisas como sexo antes do casamento que antes eram consideradas tabu estavam sendo praticadas pelos jovens.
Moscou fez várias ameaças a Dubcek dizendo que suas experimentações eram uma grande ameaça. O império soviético atrás da cortina de ferro temia não sobreviver à mudanças e reformas. Em maio a empolgação estava nas alturas, o povo acreditava que grandes acontecimentos estavam chegando, a liberdade na imprensa era grande, ainda que um pouco desconfortável. Foi então que a antipatia de Moscou se tornou terror.
No início do verão, as tropas do Pacto de Varsóvia levaram a cabo manobras conhecidas em território tcheco. O aviso era claro. Mas Dubcek não cedeu. Numa reunião após ele resolveu abrir algumas concessões, mas já era tarde demais. Em 20 de agosto de 1968, às 3 da manhã as rádios da Tchecoslováquia pediram às rádios da Romênia e da Iugoslávia repassarem a informação: “o país está sendo invadido pelas tropas socialistas, contem a verdade para o mundo”. No dia 21 de agosto, o aeroporto de Praga foi tomado por parquedistas soviéticos. O exército russo invadira as fronteiras da Tchecoslováquia. Ao amanhecer, já havia tanques no centro da cidade.
As pessoas não entenderam realmente o que estava acontecendo, aqueles que se chamavam amigos agora entravam com carros blindados em seu país, tomavam posições estratégicas em prédio importantes de sua cidade. Os cidadãos viam Moscou como um aliado de sua reforma pacífica, mas a tentativa de liberdade foi esmagada por 600 mil soldados e 700 tanques soviéticos.
Quando refeita do impacto de ver a invasão, a população saiu às ruas em protesto, tentando atrapalhar os passos dos soldados. Alguns estudantes deitavam na frente dos tanques para impedir seus movimentos, houve vaias para os soldados que eram barrados pelos cidadãos portando nada mais que bandeiras do seu país. Alguns poucos ainda adotavam posturas agressivas lançando coquetéis molotov. Mesmo assim, tudo foi em vão, a força dos tanques era conclusiva, a resistência era inútil, a possibilidade de unir comunismo com capitalismo era impossível. O pior foi em Liberec onde pessoas morreram. Os tanques circulavam sem parar. Aproximadamente 100 pessoas morreram e 400 ficaram gravemente feridas.
Com o fim da Primavera de Praga, a população foi forçada a assinar um documento que a obrigava a concordar com a invasão, legitimando a presença das tropas estrangeiras no país. Quem se recusava a assinar o documento, tinha a vida prejudicada para sempre. Com a pressão externa, Dubcek deixou o poder que passou para os dirigentes comunistas. 250 mil pessoas foram julgadas por crimes contra o partido, 178 foram executadas por crimes políticos.
Jan Palach, um aluno inconformado com o fim da Primavera de Praga escreveu cartas ao regime em protesto, então caminhou até a Praça Wenceslau, em Praga, regou o corpo com gasolina e ateou fogo em si. Imolando-se aos vinte anos, ardeu à beira das flores de uma estátua. 500 mil membros do partido perderam os empregos após o acontecimento. As forças de Moscou levaram presos os líderes comunistas do país. Houve protestos pelo mundo, mas o evento todo acabou ignorado.
Começou a era do esquecimento e desilusão sob um governo repressivo. Descrença substituiu a esperança, conformismo substituiu a luta. O país estagnava: rotina, ossificação, clima de George Orwell. Duas décadas de silêncio. O povo somente voltou às ruas após a queda do muro de Berlim na Revolução de Veludo.
O propósito da Primavera de Praga era impossível de ser alcançado em seu tempo. Isto implicaria mudanças estruturais inaceitáveis nas diretrizes marxista-lenistas da URSS. Prova disso foi o efeito dominó da abertura político-econômica que floresceu e derrubou o império soviético.
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