Deleuze nasceu no dia 18 de janeiro de 1925 em Paris, França. Seu pai é engenheiro e sua mãe cuidava da casa e dos filhos Deleuze e George, 5 anos mais velho que o irmão caçula.
Durante a Segunda Grande Guerra, Georges, com 19 anos, se engaja na resistência. O final é trágico, preso pelos alemães, ele é morto. A morte nunca foi superada pela família. O filho mais velho se torna mártir. Um ídolo para o irmão, então com 14 anos, que se torna eternamente menor que ele.
Gilles sempre foi complexado em face de seu irmão Georges. Os pais devotavam um verdadeiro culto ao filho mais velho, e Gilles não os perdoava pela admiração exclusiva por Georges. Ele era o segundo, o medíocre, enquanto George era um herói”
– François Dosse, Gilles Deleuze & Félis Guattari – Biografia Cruzada, p. 82
Durante a infância, Deleuze nunca gostou do conservadorismo e do familismo burguês de sua família e se orgulhava de seu nome simples que significava “De L’yeuse” ( Do carvalho, em português). Além disse, é patente as dificuldades respiratórias de Deleuze desde sua infância.
O início da Guerra, em 1939, surpreende a família de férias na Normandia, decidem permanecer no interior da França. Deleuze está com 14 anos e começa a se interessar pela literatura francesa através de um professor. Desde suas primeiras aulas de filosofia, ele soube de imediato que era isso que queria fazer. A descoberta do pensamento marcaria para sempre a sua vida.
Após o armistício retornam a paris, onde permanecerá até o fim de seus dias, viajando pouquíssimas vezes. Ainda antes de entrar para a faculdade, Deleuze já lia o grande pensador de seu século, Jean Paul Sartre. Conhecia cada passagem de “O Ser e o Nada”e assiste sempre que poda a suas peças no teatro. O desapontamento só virá depois, quando o Sartre vira moda com seu “O existencialismo é um humanismo”.
Seu amigo de infância, Michel Tournier, o leva pelo caminho da filosofia. Deleuze começa a frequentar grupos (conhece Klossowski, Battaille, Kojéve, Grenier) e muitos dizem em tom de brincadeira e admiração: “Esse será o ‘Novo Sartre’”.
O que mais impressiona é o ar de atualidade que Deleuze dá à filosofia. Uma concepção não acadêmica, prática, dinâmica, viva. Como se ela brotasse dos livros e se encarnasse diretamente nas coisas cotidianas, para serem imediatamente usadas.
Depois de frequentar um curso preparatório, Deleuze entra para a Filosofia na Sorbonne e estuda com grandes personalidades da época: Ferdinand Alquié, Jean Hippolyte Taine, Martial Gueroult, Jean Wahl e François Châtelet, Georges Canguilhem, Maurice de Gandillac.
O final dos anos 40 e início dos anos 50 marcam para Deleuze o início de sua carreira como professor secundário no liceu de Amiens, onde lecionará de 1948 a 1952. Ele chegam em Amiens na terça feira de manhã e só volta a Paris na sexta feira, hospedando-se no mesmo hotel onde também está seu amigo Tournier.
A fama de Deleuze é a de ser um um excelente professor! Este é um prestígio do qual Deleuze poderá se orgulhar sua vida toda! Era muito amado pelos alunos! Grande inspirador dos jovens aspiradores à carreira intelectual. Excêntrico, seu método pedagógico consistem em chegar na aula com seu chapéu e unhas compridas Retirar um papel amassado do bolso de seu casaco e desdobrá-lo lentamente. O professor segue com sua aula sem consultar o papel amarrotado nem uma única vez. Suas anotações não são um apoio didático, são a prova da extensa preparação da aula depurada em algumas anotações certeiras.
O tom da aula é de improvisação, mas todos sabem do cuidado meticuloso com que cada passagem foi cuidadosamente preparada. Deleuze dava impressão de estar no mesmo nível que seu público, mas nada poderia estar mais incorreto! Ele nunca era pego desprevenido! Finge perturbação, finge que os pensamentos lhe ocorrem no último minuto, e coloca para si mesmo em voz alta perguntas como quem explora o pensamento de última hora… pouco a pouco as linhas do problema vão ficando cada vez mais claras, as articulações são feitas, e o conteúdo luminoso de sua aula pode brilhar aos olhos de todos!
Depois de 1955, Deleuze é nomeado para o Liceu Louis-le-Grande, em Paris, onde ficará até 1957. Seu percurso como ótimo professor continua. Naquela época, possui uma espécia de autoridade natural (não autoritária), não respondia a provocações. Nunca perdia a calma. É nesse tempo que conhece a sua esposa, Fanny Grandjuan, com quem permanece casado por toda a sua vida.
É com singularidade que Deleuze se lança em seu próprio trabalho filosófico através da História da Filosofia. Em 1953 sai seu primeiro livro: “Empirismo e Subjetividade”, sobre Hume. Com maestria, ele faz os autores dizerem coisas que não estava em suas obras. Leva o pensamento adiante! Deleuze rompe com as tendências contemporâneas e os autores da moda! Estuda Hume em vez de Hegel, para lançar seu primeiro livro; interessa-se por Bergson em vez de Heidegger ou qualquer outro autor na prateleira dos mais vendidos.
Observaremos esta tendência ao longo de toda a sua vida e nas mais diversas áreas: literatura, na antropologia, na biologia, na política, na linguística, em tudo. Seu objetivo é reabilitar as tradições esquecidas, mostrando suas outras possibilidades de pensamento.
Seu principal campo de interesse, além do campo da filosofia, é a criação artística como meio de fazer pensar diferentemente. Na literatura (com Melville, Lawrence, Fitzgerald, Kafka, Miller, Kerouac), na pintura, no teatro, na música. Para o filósofo, o que conta não é a área do conhecimento, mas se ele afeta, suas relações de velocidade e lentidão.
O filósofo deve antes de tudo se empenhar em restituir a singularidade dos pensadores que o precederam para, uma vez nutrido e mais bem armado com o pensamento de outro, se lançar em um trabalho de criação pessoal”
– François Dosse, Deleuze & Guattari, Biografia Cruzada, p. 97
Depois de seu primeiro livro sobre Hume há uma fase de latência, o filósofo passa um bom tempo sem publicar nada! Por onde ele anda nesse período? Dando aulas! Claro! Ele se torna assistente de história da filosofia em Sorbonne de 1957 a 1960. O hiato de publicações só é quebrado em 1962 com “Nietzsche a Filosofia”, reabilitando o pensador alemão na história do pensamento. É Nietzsche quem força Deleuze numa nova direção. A partir daí começa a lenta transição da história da filosofia para o tornar-se filósofo!
Em 1963 sai “A filosofia Crítica de Kant”, onde Deleuze aprende que se deve aprender a respeitar os inimigos e procurar aprender com eles. No ano seguinte, “Proust e os Signos”, aventura no campo da literatura. Em 1975, um livro introdutório, encomendado por Chatelet, sobre Nietzsche, o pensador alemão se torna então um modelo do que a filosofia contemporânea deveria ser: artística, criadora, diagnóstica! Logo depois veremos a publicação de “Bergsonismo”, onde Deleuze leva mais uma vez seus filósofos favoritos a falarem uma linguagem ousada e atual.
No período de 1964 até 1969 Deleuze é professor em Lyon. É nesse período onde se emancipa do peso da história da filosofia. O filósofo começa pouco a pouco a encontrar a sua voz e desenvolver suas próprias temáticas.
Pós maio de 68, Deleuze entregará sua Tese: “Diferença e Repetição”, talvez um de seus trabalhos mais importantes. Sua tarefa agora é outra: inverter o platonismo, elaborar uma outra ontologia. É também em 1968 que Deleuze deposita sua tese complementar “A ideia de expressão na filosofia de Espinosa”, junto com Bergson e Nietzsche, o filósofo holandês é um de seus grandes mestres! Mas parece ser diferente, pois ocupa para Deleuze o lugar de príncipe dos filósofos, a quem mais se dedicou e estudou!
Depois de ter pago seu tributo à corporação dos filósofos de ofício e ao publicar essas monografias, ao mesmo tempo consolidando a base vitalista em que vai se apoiar, Deleuze passa a difundir suas próprias teses filosóficas, em 1968-1969, falando agora em seu próprio nome aquilo com que está rompido. Afirma, então, sua singularidade de pensamento e de escrita, de estilo”
– François Dosse, Deleuze & Guattari, Biografia Cruzada, p. 127