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Virtude é um termo latino que significa Virtus, que deriva do termo grego, arethé, que por sua vez significa a excelência de alguma coisa, algo de mérito e valor. É desta mesma palavra (Arethé) que também nasce a palavra Aristos, que em latim, que significa o melhor, o mais bem qualificado, o de maior valor. Por isso, por exemplo, a Aristocracia seria o (suposto) governo dos melhores, dos mais bem qualificados.

Virtude então significa mérito, grandeza, força, valor. É a boa disposição, a habilidade e a capacidade de enfrentar o mundo e seus perigos. É a capacidade de ir ao máximo do que se pode. A virtude estoica está baseada principalmente na capacidade de resistir às paixões que contrariam nossa essência (hormé). Ou seja, buscar aquilo que nos conserva e resistir àquilo que nos faz mal. Virtude é a ação que entra em relação de harmonia com a natureza à nossa volta e nossa natureza racional.

Sendo assim, podemos dizer que a Virtude estoica é o contrário da paixão. Através delas seremos capazes de viver uma vida tranquila, longe dos males, das dores, e de todo sofrimento e angústia. Mas para isso, antes de mais nada, precisamos seguir nossa natureza e nos concentrar naquilo que está em nosso poder. Encontramos quatro grandes Virtudes que nos tornam independentes (autarquia):

  • Prudência (Phronesis): Talvez a mais importante e mais geral. Ser prudente é possuir sabedoria prática para agir da maneira correta e aceitar aquilo que não podemos controlar. Prudência é harmonia com a natureza como um todo, com todos à nossa volta e com nós próprios. Com ela aprendemos que se deve fazer ou não se deve fazer e quando se deve fazer ou não fazer para se viver bem. Isso permite passar pelas mais diversas situações de maneira calma, equilibrada e serena, porque se possui um conhecimento de si, dos outros e do mundo.
    • Sendo assim, o oposto da prudência só pode ser a ignorância, a estultice, fazer a coisa errada na hora errada. Desta maneira, o prudente é sábio o bastante para reconhecer com facilidade qual caminho deve seguir, sabe onde as coisas podem terminar bem ou mal. Ele tem esta intuição apurada e sabe qual é a ação mais apropriada ao momento.
    • A prudência sempre se pergunta: eu sei o que estou fazendo?
  • Temperança (Sophrosyne): A temperança é simplesmente a moderação das nossas ações, pensamentos e afetos. Está ligada com a parte Lógica da filosofia estoica e faz parte da Disciplina do Assentimento. Ser temperante é examinar-se para saber qual o seu limite, quando se deve parar e o quanto se pode continuar. 
    • Seu oposto é a devassidão ou a licenciosidade. O moderado possui autocontrole para medir seus afetos, deste modo ele sabe o que é e o que não é desejável, sabe qual o ponto em que passa a ser arrastado pelas paixões, conhece a dinâmica do mundo e pode dizer quando um antídoto se torna veneno e vice-versa.
    • A temperança sempre se pergunta: ainda estou no controle da situação? Faz sentido continuar?
  • Coragem (Andreia): Coragem é a capacidade de enfrentar os desafios do mundo, por mais difíceis que pareçam. Ela faz parte da Física, pois disciplina o desejo a querer apenas aquilo que o mundo nos dá. Coragem é a fortaleza, a virilidade de saber o que devemos e não devemos fazer. Treinar para encarar qualquer problema.
    • Seu oposto é a covardia, não enfrentar algo que venceríamos, mas também a temeridade, enfrentar algo que sabemos que não podemos vencer. A Coragem é a capacidade de encarar os perigos, de enfrentá-los de cabeça erguida.
    • A Coragem sempre se pergunta: estou à altura daquilo que vou enfrentar? Estou preparado para os desafios da vida?
  • Justiça (Dikaiosyne): A justiça estoica vai muito além do campo legal. Ela faz parte da Ética e existe para disciplinar a ação. Estamos falando primordialmente da relação com o outro. A justiça moral ensina a dar a cada um o que lhe é devido, para que todos façam parte segundo boas proporções. É a arte de dividir corretamente o mundo à nossa volta, encontrar a melhor relação com o outro onde todos possam crescer e prosperar. 
    • Seu oposto é a injustiça, onde a divisão da realidade não condiz, e é antinatural ou irracional, com o que acontece. Objetivo é multiplicar os bens e dividir os males.
    • A justiça sempre se pergunta: estou dando ou recebendo o que se merece? A relação com os outros é proporcional ou desproporcional?

Todas as virtudes estoicas nos levam, finalmente, à sabedoria, ao florescimento e realização de si mesmo. No fim das contas, ela é uma só: seguir a natureza de nosso corpo para que se faça um só com o corpo da natureza. Ou seja, harmonizar nossa melodia com a harmonia do mundo. O sentido da nossa natureza é o mesmo da Natureza e de Deus. Tudo é uma coisa só.

A virtude não é como a navegação, uma sabedoria para se chegar em algum lugar. Não há um telos estoico na virtude, a virtude é a o próprio prêmio dela mesma. Ser virtuoso não leva a lugar nenhum, a não ser a nós mesmos. É como saber dançar, pois é em si, é sem um objetivo final, ela é o fim em si mesma.

A virtude nos dá sabedoria para distinguir aquilo que nos faz bem daquilo que nos faz mal. Nos dá temperança para não cair em nenhum dos dois extremos. Desta maneira nos ensina a ter força e coragem para continuar a seguir neste caminho e encontra a justiça de um bom equilíbrio da natureza.

Se as paixões rompem o equilíbrio natural, agitam a alma para lados contrários, então, a virtude dos estoicos será primeiramente uma força de resistir aos movimentos que a natureza nos impõe que vão contra nossa natureza. A sabedoria dos estoicos está fundada em uma ascese, um resistir ao mal, e à violência das paixões. 

As paixões mostram como a natureza humana é frágil. E a virtude mostra como precisamos nos exercitar para nos sentirmos realizados. Aqui, a prática leva à perfeição. O que quer qualquer acontecimento? Quer se efetuar! E o que acontece com os fracos? Não conseguem se efetuar em conjunto com o acontecimento, são levados por ele e se perdem de si mesmos.

O estoicismo ensina que é preciso criar Tônus, tensão, força da alma, atenção para lutar contra as paixões. Pular de cabeça no acontecimento sem ser destruído por ele. Aceitar o acontecimento por estar preparado para ele. Eis a sabedoria.

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Rafael Trindade

Autor Rafael Trindade

Quero fazer da vida o ofício de esculpir a mim mesmo, traçando um mapa de afetos possíveis.

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9 Comentários
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Carlos Dojas
4 anos atrás

? A temperança e a Ataraxia são a mesma coisa ?

Anderson Cosmo
Anderson Cosmo
Reply to  Carlos Dojas
3 anos atrás

Creio que não. Enquanto a temperança é uma espécie de moderação, é saber o que é necessário e evitar os extremos, a ataraxia seria uma tranquilidade resultada da prática dessas quatro virtudes.
A temperança está mais para uma peça do quebra-cabeça e a ataraxia é o resultado a ser alcançado

Vanessa
Vanessa
4 anos atrás

Que texto lindo! Obrigada!

juaocoltro
juaocoltro
3 anos atrás

Ótimo texto para começar a manha!!
Sensacional!

Reard Michel dos Santos
Reard Michel dos Santos
3 anos atrás

Ótimo texto, parabéns! Acredito no Virtus como propósito fundante na minha área de Educação Física no contexto escolar. Grato pela contribuição!

Miguel Garcia
Miguel Garcia
3 anos atrás

Obrigado por existir, resistir e fertilizar ideias tão edificantes! Abços

Israel santos
Israel santos
2 anos atrás

obrigado, me ajudou muito.

Luiz Brandão
Luiz Brandão
1 ano atrás

Ótima síntese! Texto de divulgação bastante útil, curto mas sem perder densidade.

Last edited 1 ano atrás by Luiz Brandão
George William
George William
1 ano atrás

Obrigado
Hoje fiz uma linda leitura