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Canônica

A teoria epicurista do conhecimento

Quem entra em conflito com as evidências jamais terá parte na autêntica tranquilidade da alma”

– Epicuro, Carta a Pítocles

Nas escolas aristotélica e estoica, costuma-se chamar de lógica a parte dessas filosofias dedicada aos problemas da enunciação e do conhecimento verdadeiros. Entre os epicuristas, chama-se canônica, porque não se trata de uma operação baseada nas proposições discursivas da linguagem e da razão (lógos), mas em três outros instrumentos: as sensações (aisthésis), as pré-noções (prolepsis) e as afecções (pathé).

Os epicuristas falam menos das sentenças e mais dos sentidos. Tudo começa com o corpo sendo tocado pelo mundo através das sensações, segue com a formação de pré-noções, isto é, imagens mentais e palavras; e termina com afecções de prazer ou dor. Para Epicuro, estas são as três maneiras pelas quais nós apreendemos os fenômenos.

A palavra “canônica” é derivada da palavra grega kanon que significa instrumento, no sentido em que designa quais são as ferramentas ou os critérios que a teoria epicurista utiliza para o conhecimento. Assim, um cânone é como uma régua ou um compasso utilizado para conhecer e dizer a natureza.

Pode parecer banal que Epicuro coloque as sensações como primeiro e principal instrumento para a apreensão da verdade, mas quando lembramos que a teoria platônica representa a tradição da verdade obtida pelo afastamento do sensível, então percebemos a originalidade dos epicuristas. 

A canônica trata do critério para julgar a verdade ou falsidade das opiniões e parte de um axioma principal: a sensação é verdadeira. Todo processo de conhecimento precisa partir de alguma certeza fundamental, senão acaba por tornar-se inconsistente em termos lógicos. Assim, os epicuristas propõem a sensação como fundamento de suas verdades e práticas. Foi a partir delas que Epicuro propôs sua filosofia de moderação dos prazeres como caminho mais eficaz para a boa vida.

Sensações

Pré-noções

Afecções