Bergson cria o conceito de Elã Vital para responder perguntas que a Filosofia tradicional não dá conta:
Até agora, viemos considerando objetos materiais tomados ao acaso. Não haveria objetos privilegiados? Dizíamos que os corpos brutos são talhados no tecido da natureza por uma percepção cuja tesoura segue, de certo modo, o pontilhado das linhas sobre as quais a ação passaria. Mas o corpo que irá exercer essa ação, o corpo que, antes de realizar ações reais, já projeta sobre a matéria o desenho de suas ações virtuais, o corpo ao qual basta apontar seus órgãos sensoriais para o fluxo do real para fazê-lo cristalizar em formas definidas e, assim, criar todos os outros corpos, o corpo vivo, enfim, seria ele um corpo como os outros?”
– Bergson, A Evolução Criadora, p. 18
Filosofia e Vida
Antes de mais nada, esta série sobre Bergson quer responder à pergunta: É possível reaproximar a filosofia da vida? Em segundo lugar, é possível, à filosofia, compreender estes processos que constituem aquilo que chamamos de vida? Ou seja, sabemos que os processos vitais são de uma complexidade única e que a inteligência tem dificuldades de acompanhar seus meandros. Sendo assim, se o intelecto não dá conta, como fazer? Por acaso existe aproximação possível entre o saber e a própria vida se manifestando?
Um ser vivo distingue-se de tudo que nossa percepção ou nossa ciência isola ou fecha artificialmente. Seria, portanto, um erro compará-lo a um objeto”
– Bergson, A Evolução Criadora, p. 20
A vida segue outros caminhos, e por isso precisa de outro método para compreendê-la. Já vimos, anteriormente, que Bergson oferece o método adequado: a Intuição. Pois bem, tudo aquilo que dura só pode ser pensado pelo viés do tempo. Apenas a Intuição é capaz de recolocar os problemas e entender este processo vital que se inscreve mais no tempo que no espaço.
Por toda parte onde algo vive, há, aberto em algum lugar, um registro no qual o tempo se inscreve”
– Bergson, A Evolução Criadora, p. 21
Um caminho vitalista
O tempo, diz Bergson, se inscreve na vida, se acumula, é capaz de durar. Em outras palavras, é a própria energia vital que se inscreve no tempo. Dessa maneira, Bergson se afasta das explicações finalistas e mecanicistas que pretendem dar conta da vida. Ou seja, com o caminho da Intuição, capaz de apreender a duração, o filósofo francês seguirá pela via do Elã Vital. Força esta que se parece com uma explosão, fazendo a vida se espalhar de maneira divergente por toda a parte.
Em suma, apenas o Elã Vital nos oferece uma perspectiva potente da criação contínua e diferenciante que é a vida: aberta para o novo e inesperado. Pois a vida é um caminho que não foi aberto pela ciência ou pela inteligência, ela é o que não podemos saber nem medir de antemão com a certeza de nossas réguas e microscópios. O sentido da vida é, assim, um processo aberto, um constante fazer-se e desdobrar-se em direção ao novo.
De modo que a vida inteira, animal e vegetal, naquilo que tem de essencial, aparece como um esforço por acumular energia e por soltá-la depois em canais flexíveis, deformáveis, na extremidade dos quais realizará trabalhos infinitamente variados. Eis o que o Elã Vital, atravessando a matéria, gostaria de obter de um só golpe”
– Bergson, A Evolução Criadora, p. 179