O funcionamento do processo desejante
Se a esquizoanálise é uma tentativa de reversão do teatro edípico da psicanálise, e se ela vê o inconsciente literalmente como uma usina de produção, então, um dos objetivos de Deleuze e Guattari é compreender exatamente este processo desejante. Como dissemos anteriormente, tudo é feito de máquinas sobre um Corpo sem Órgãos. Sendo assim, o trabalho da esquizoanálise será investigar como se dão estes movimentos. Para isso, primeiramente ela precisa realizar uma análise do inconsciente, de seu funcionamento imanente.
Nos dirigimos aos inconscientes que protestam”
– Deleuze, Conversações, p.34
O Inconsciente Maquínico é o conceito que Deleuze e Guattari propõem para repensar a subjetividade humana através de sínteses que ele opera. O que é o inconsciente para Deleuze e Guattari? Ele é uma máquina! Ele é literalmente maquínico! Ele se constitui de peças que se acoplam e de energia que circula. Os autores inauguram uma psicologia do inconsciente transcendental. Transcendental (e não transcendente) porque oferece as condições de funcionamento imanente e imediatamente real, não está em nenhum outro lugar.
O inconsciente diz respeito à física; não é absolutamente por metáfora que o corpo sem órgãos e as suas intensidades são a própria matéria”
– Deleuze e Guattari, O Anti-Édipo, p. 373
O Inconsciente Maquínico possui três peças:
- Objetos parciais: são as peças trabalhando sobre o corpo sem órgãos, peças que se unem umas com as outras;
- Motor Imóvel: É o plano onde tudo acontece, é o corpo se órgãos que ao mesmo tempo arranja e desarranja as máquinas;
- Peça Adjacente: a subjetividade é resultado de um determinado funcionamento das máquinas, ela é o produto final.
A máquina desejante não é uma metáfora; ela é o que corta e é cortado segundo esses três modos. O primeiro modo remete à síntese conectiva, e mobiliza a libido como energia de extração. O segundo, à síntese disjuntiva, e mobiliza o Numen como energia de desligamento. O terceiro, à síntese conjuntiva, e a Voluptas como energia residual. É sob estes três aspectos que o processo de produção desejante é simultaneamente produção de produção, produção de registro, produção de consumo. Extrair, desligar, ‘restar’”
– Deleuze e Guattari, Anti-Édipo, p. 61