Paixão é um termo que deriva do grego, pathos, e significa aquilo que se sofre, se sente por acontecimentos exteriores. Ou seja, a definição de paixão seria uma modificação corporal que sofremos devido uma ação exterior.
Se a virtude, como veremos, é um movimento de entrar em harmonia com a natureza, as paixões são exatamente o contrário, uma força que nos empurra para longe de nós mesmos e nos faz entrar em desarmonia com a natureza.
A paixão é a passividade da alma, sua fraqueza. É o vento que carrega a folha, é o mar que arrasta o náufrago é a avalanche que soterra o alpinista. As paixões seriam então esta força que nos faria entrar em contradição com a natureza. Ela não é nada mais do que um movimento não natural de nossa alma, um movimento realizado apenas sob coação exterior.
Escravo das paixões, submetidos a ela, nossa alma segue numa direção onde se sente contrariada, até mesmo violentada. Se o movimento do corpo tem uma naturalidade (pense nos movimentos possíveis do joelho e do cotovelo, por exemplo), a mesma coisa vale para a alma. Se a paixão chega a níveis de constrangimento extremos, morremos.
Por isso, dizem os estoicos, submetidos às paixões, a alma é violentada e se enfraquece. Ora, por que faríamos isso? Simples, porque damos nosso assentimento a falsas representações e desejamos aquilo que não podemos obter. Em outras palavras, seguimos em direções enganosas que na verdade nos fazem ir contra nossa natureza. A paixão é, portanto, uma adesão que damos ao falso, rompendo assim nosso equilíbrio natural.
Mas como, se os estoicos dizem que tudo é natureza? Como algo contra a natureza se tudo são corpos? Não há contradição alguma aqui. Tudo é Deus, tudo é um logos divino e racional, mas podemos dizer que ocorre uma desarmonia, um desequilíbrio, um desencontro entre a natureza universal com nosso corpo particular. Do ponto de vista universal, tudo vai bem, mas do ponto de vista particular, há paixão.
Os estoicos dividem as paixões fundamentalmente em quatro:
- Dor: A dor física ou mental indica um movimento contrário de nossa natureza, ela indica que nosso corpo sendo contrariado, desnaturalizado por outro. A dor é a força de fora obrigando nosso corpo/alma a realizar movimentos contrários à nossa essência. Por exemplo: a tortura é a realização de movimentos totalmente contra a natureza de nosso corpo. Mas esta paixão também se manifestar mentalmente como inveja, ciúme, despeito, desgosto, sofrimento, aflição, confusão. A dor carrega o ser humano para longe de sua essência, o faz ser o que não é
- Medo: O medo é a possibilidade de no futuro sentir dor. O medo é a expectativa de uma dor provável. Por exemplo: o medo de contrair uma doença, de perder suas posses, o medo de ser sequestrado, agredido, perseguido. Esta paixão se desdobra em outras: pavor, hesitação, vergonha e angústia são medos, são nossa alma sendo tomada pela paixão, com a expectativa deste acontecimento. O medo impede o homem de estar à altura do acontecimento.
- Prazer: Quando um prazer ultrapassa a essência de nosso corpo (nossa tendência, hormé) ele se torna paixão. Ou seja, quando o prazer carrega a natureza de nosso corpo para além dela. Os estoicos se opõe ao hedonismo. O prazer não pode, em hipótese alguma, tornar-se maior que a tendência. O prazer excessivo se desdobra em desregramento, sedução, o prazer que extraímos da tristeza dos outros. O prazer nos faz esquecer quem somos.
- Desejo: Trata-se de um apetite irracional da alma. O desejo é a expectativa desnecessária de prazer. É querer algo que não nos convém e sobre a qual não temos controle. A Hormé é nossa inclinação natural. O desejo é a paixão do imprudente, excessiva e desmedida, que gera apenas servidão e impotência. O desejo gera indigência, ódio, cólera, ressentimento, irritação. O desejo nos afasta de nós mesmos.
Vemos como toda paixão é um tipo de Servidão (como diria Espinosa) e como seus afetos se desdobram em vários outros que também nos fazem mal. Por isso devemos aprender a dominar as dores e não ceder aos prazeres.
O corpo, para os estoicos, é sempre em ato, é aquilo que quer efetuar-se. Ele é uma força do sopro divino que gera acontecimentos. As paixões acontecem quando os corpos não podem se expressar adequadamente ou não encontram meios de expressar sua essência.
Ora, só podemos concluir que a paixão é uma doença da alma! Ela é um movimento de uma alma perdida, debilitada. perturbada. Os estoicos comparam os apaixonados a crianças que não sabem o que querem nem o que fazem, porque se confundem o tempo todo sobre o que é melhor para elas.
A paixão é ignorância de julgamento da alma, é desmedida das ações, é ingenuidade para com o mundo. Não é castigo dos deuses ou maldição por ações passadas. É pura e simplesmente um erro de julgamento, uma opinião falsa, que nos faz cair em caminhos prejudiciais. Como um escalador que se segura na pedra errada e cai da montanha, como um surfista pega uma onda maior do que consegue surfar.
Há uma concepção intelectualista da paixão, ela é o que nos afasta da natureza, a natureza é a razão divina, logos, a paixão nos afasta de Deus e da verdadeira felicidade. Como retomar o processo? Como efetuar-se? Como estar à altura do acontecimento?
Em suma, toda paixão é fraqueza e irracionalidade (o que são praticamente a mesma coisa para os estoicos). Mas se elas são uma doença, como uma gripe, uma infecção, uma dor de cabeça, então podemos curá-la!
Existem doenças do corpo, e os médicos prescrevem dietas e medicamentos. Mas existem doenças da alma, onde o estoicismo age como um médico e prescreve exercícios e medicamentos para a alma. O estoico é como um médico que indica os remédios necessários para nos curar das paixões.
Tudo isso exigirá um esforço por parte do doente, uma ascese, uma série de etapas a serem cumpridas. As paixões, segundo os estoicos, estão em nosso poder, podemos extirpá-las. Sair delas é entrar na Virtude.
Belo, belo, belo! Para um jovem de 19 anos isso é de uma leveza maravilhosa!
Mesma Idade que Eu, mesmo Sobrenome.
Sinto o Mesmo, Texto Magnífico.
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