Todo desejo incômodo e inquieto se dissolve no amor da verdadeira filosofia” – Epicuro, Pensamentos
O que é a filosofia? Já respondemos essa pergunta de muitas maneiras diferentes. Desta vez, queremos começar com uma pergunta diferente: Para que serve a filosofia? Por que seria importante estudá-la? Epicuro responde, provavelmente estamos incomodados com alguma coisa e seu estudo pode ajudar a entender o que está nos incomodando. Ou seja, se abrimos um livro de filosofia é para dar fim a alguma dor.
No caso de uma dor física, iríamos ao médico, mas e se a dor for espiritual? E se o incômodo for um medo, uma aflição, uma dúvida? Neste caso, diz Epicuro, apenas a filosofia pode ajudar. A filosofia é indissociável da busca por viver bem, da busca por um modo de vida prazeroso. Ou seja, só vive bem quem filosofa e só filosofa quem quer aprender a viver bem.
Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém é jamais demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz” – Epicuro, Carta a Meneceu
Sendo assim, só podemos concluir que estudar filosofia por erudição não significa nada. Recitar trechos de livros apenas para se mostrar para os outros é vaidade inútil. A filosofia serve para nossa empreitada de sermos mais felizes, de nos curarmos das dores da alma, de fazer a vida ser mais interessante aqui e agora, para nós e não para os outros.
Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho, para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer por meio da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade” – Epicuro, Carta a Meneceu
Para Epicuro, apenas a filosofia é capaz de nos proporcionar a verdadeira liberdade. Ela se torna então uma prática diária e constante. De que serviria a medicina, pergunta Epicuro, se ela não livrasse dos males do corpo? Ora, a mesma coisa pode ser dita da filosofia, de que serviria ela se não nos livrasse dos males do espírito?
Para que serve então a filosofia de Epicuro? Para mudar o mundo? Não. Para nos tornar melhores? Não exatamente. A filosofia de Epicuro está próxima de Sócrates e dos pré-socráticos: busca a ti mesmo, conhece a ti mesmo, examina a ti mesmos. Filosofar é proporcionar a si mesmo uma transformação, uma mudança, não para nos adequarmos aos modelos que o mundo oferece, mas para encontrarmos a nós mesmo. A filosofia oferece o auto-conhecimento que permite a nós mesmos agir de maneira melhor, segundo nossa própria natureza.
Conhecer-se a si mesmo se impõe e se irrompe em si a partir de si, não vem de fora e é bem por isso que requer autonomia e independência, numa palavra: autarquia” – Miguel Spinelli, Os Caminhos de Epicuro
O objetivo prático da filosofia de Epicuro é diminuir ao máximo as dores, para então sentir o verdadeiro prazer, não aquele dos que fogem de si mesmos, que fogem porque temem. O prazer em Epicuro é equilibrado, dono de si, moderado pela própria natureza de um corpo que aprendeu a se relacionar com a natureza de maneira sábia.
A diminuição das dores é inversamente proporcional à fruição dos prazeres. Quanto menos dor, mais prazer, e quanto mais dores, mais bizarros e desproporcionais precisam ser os prazeres. Quanto menor a dor, maior a satisfação nos prazeres simples, o que torna mais frequente o encontro com a felicidade.
Epicuro significa, em grego, aquele que vem ao nosso auxílio. Deixemos então que sua filosofia nos mostre o caminho para a verdadeira felicidade, aquela que apenas o sábio epicurista soube encontrar.
Impressionante como a dor é inverssamente proporcional ao prazer, tudo há ver com física!