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Uma ideia pode ser facilmente apagada de um muro, mas não é tão fácil quanto sonham alguns apagá-la de uma agenda social.  Desde 1968, esta ideia permanece e, talvez, vivamos o tempo em que mais se faz pertinente rabiscá-la nas paredes: onde se dá a política?  Se há uma resposta, estamos convencidos de que ela não está restrita à representatividade de nossa república. Uma mão de tinta pode apagar o que alguém levou minutos para desenhar, mas não há esforço no mundo que nos faça voltar a crer no poder do voto como único mecanismo legítimo da atuação social. Já tivemos o suficiente.

‘Vote! Exerça a civilidade’ nos soa ‘Acostume-se. Exerça sua paciência’. Jamais estivemos tão afastados do núcleo de decisões que nos envolve enquanto sociedade. O aparelho burocrático é um obstáculo entre nossas ideias e sua prática. Mais vale tomar nas mãos a política do que a justiça. É uma necessidade de primeira ordem repensar e redistribuir os papéis na atuação política. Se é difícil pensar em uma ampliação da participação democrática da sociedade como um todo, é porque esses caminhos não foram ainda devidamente explorados, é porque nas mãos de poucos está o destino de muitos.

"A política passa-se nas ruas, e não nas urnas"

“O poder está nas ruas, e não nas urnas”

Não nos enganemos: bradar de peito cheio contra a classe política não significa que tomamos o fazer político nas mãos, isso está mais para um resmungo conformista. O problema não é a qualidade dos nossos burocratas, mas o entendimento do nosso Estado acerca do fazer político. Há de se colocar as ideias em circulação, há de ser trazer a política para as ruas, há de se promover um fluxo de conflitos, um programa de confrontos entre propostas. Não há nada mais repugnante do que aquilo a que chamamos hoje de debate político. Só nos mostra que,até agora, entendemos muito mal o que significa ‘debate’ e, principalmente, o que significa ‘política’.

Rafael Lauro

Autor Rafael Lauro

Um dos criadores do site Razão Inadequada e do podcast Imposturas Filosóficas, onde se produz conteúdo gratuito e independente sobre filosofia desde 2012. É natural de São Paulo e mora na capital. Estudou música na Faculdade Santa Marcelina e filosofia na Universidade de São Paulo. Atualmente, dedica-se à escrita de textos e aulas didáticas sobre filósofos diversos - como Espinosa, Nietzsche, Foucault, Epicuro, Hume, Montaigne, entre outros - e também à escrita de seu primeiro livro autoral sobre a Anarquia Relacional, uma perspectiva filosófica sobre os amores múltiplos e coexistentes.

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Diego Angeli
Diego Angeli
10 anos atrás

Perfeito. Apontaria apenas um erro no texto: o título. Como você próprio conclui, o título mais apropriado seria “A POLÍTICA deveria estar NAS RUAS E NÃO NAS URNAS”.