Para os estoicos, o mundo é animado, é um ser vivo dotato de um corpo e de uma alma e como tal sumetido a uma geração, a uma corrupção e a uma morte” – Gourinat e Barnes, Ler os Estoicos
Os estoicos estão bem longe das explicações mecânicas e atômicas dos epicuristas. Muito pelo contrário, para os Estoicos, o mundo está harmonizado e unificado, percorrido pelo Logos Divino. O universo estoico é como um ser vivo, que, como qualquer ser vivo, possui um começo, e como consequência, terá um fim. É simples, tudo que nasce deve morrer, então, se o mundo teve um momento onde tudo começou, haverá um dia onde /tudo terminará.
Podemos pensar na influência de Heráclito, o mesmo fogo substancial que cria é também um fogo que queima e tudo destroi. Desta maneira, o universo começou e terminará numa grande “conflagração universal”. Ekpyrosis, que significa uma combustão total da existência. Para os estoicos, tudo possui um ciclo e o próprio universo está submetido a um grande ano onde tudo termina e tudo recomeça. Como uma fênix que morre e renasce das cinzas.
Sendo assim, depois da destruição haverá um grande recomeço. E mais, tudo começará de novo exatamente da mesma maneira. Os estoicos chamavam isso de apocatástase que significa: reconstituição total. O mundo se reconstitui sempre do mesmo modo. Realizando grandes ciclos de criação e destruição.
Ou seja, o mesmo universo começa e termina e recomeça. E tudo nele, exatamente da mesma maneira terminará e recomeçará do mesmo modo que antes, até nos mínimos detalhes. Tudo é um grande ciclo, até mesmo o universo.
Essas ideias não eram novidade no helenismo, pois possuem raízes orientais. Mas a novidade estoica é colocar a razão desta repetição em um Logos divino. Tudo precisa ser exatamente da mesma maneira porque o Logos divino não poderia fazer as coisas de uma outra maneira que não a racional.
A palingenesia é o Eterno Retorno de todas as coisas, quando o universo completa seu ciclo de seres e acontecimentos. Tudo nasce, tudo morre e tudo retorna sem cessar.
A Física estoica nos ensinou sobre a interdependência de todos os acontecimentos. Tudo possui causas e efeitos necessários, presos ao Logos Divino, que é o mesmo em todo lugar. Se é assim, não deveria nos surpreender as coisas voltarem exatamente da mesma maneira. Afina, por que seria diferente se há apenas uma única e mesma Razão universal?
Sendo assim, ao mundo não falta nada, ele é perfeito do jeito que é. Ele apenas se destroi e se regenera o tempo todo, em um Eterno Retorno. Mas gira sempre no mesmo lugar. Este grande acontecimento, concluem os estoicos, deve gerar uma adesão Ética de nossa parte, um amor a este destino, um amor fati.
Não devemos confundir este pensamento com o de Nietzsche. Para os estoicos, o Eterno Retorno é um conceito físico real e necessário. O amor ao destino é resultado de uma adesão ao acontecimento físico necessário. Já para Nietzsche, o Eterno Retorno é assumido como um experimento do pensamento que se constitui como um desafio Ético.
A diferença é o campo onde estes conceitos se localizam para cada um destes filósofos. Mas os resultados obtidos são parecidos. A física estoica está intimamente relacionada com a Ética e o exercício de pensamento nietzschiano nos leva a questionar realmente todos os valores.
O seja, o Eterno Retorno estoico é uma reflexão sobre o destino do mundo: ele nasce e morre em ciclos, não melhora nem piora, não evolui nem regride. O grande evento cíclico garante a estabilidade do cosmos, este necessidade eterna em que estamos todos inseridos. A partir destas constatações é que a Ética estoica pode encontrar seus fundamentos.
Ótimo texto. Como seria o indivíduo nessas duas formas de ver o mundo ? Digo, ambos viveriam alegremente o eterno retorno, sendo que a única diferença seria a forma física x experimento mental. O que pode diferenciá-los ?