Vida
Antonio Negri nasceu em Pádua, Itália, seu avô trabalhava no campo, e mandou seus filhos para a escola para fugir do trabalho pesado que realizava. Seu pai foi um ativista comunista e Antonio Negri teve contato desde cedo com o pensamento de esquerda. Era um ótimo aluno e formou-se na Universidade da cidade em que nasceu, continuou seus estudo universitários, envolvendo-se também, desde cedo, com movimentos sociais
No começo, Negri vivia uma vida dupla, de manhã, durante a entrada dos operários, ele entregava panfletos políticos, depois, dirigia até a universidade onde era professor de Ciências Políticas. Os trabalhadores eram explorados e Negri, juntamente com outros intelectuais, analisaram as condições de levantes de resistência. Em Porto Marguera, toda a teoria se encontrava com a prática, trabalho e resistência contra exploração podiam ser vistos e pensados de perto.
Negri fundou então um grupo de ativistas políticos intitulados “Potere Operaio” [Poder Operário]. Seu objetivo estava em ir muito além das demandas dos sindicatos, retomar o poder nas fábricas, em vez de salários maiores. Enfim, voltar a viver do trabalho em vez de viver para trabalhar. Mesmo sendo vistas como radicais, suas exigências começaram a ganhar influência.
Nos anos setenta a situação complicou-se. Negri estava presente quando as fábricas da Fiat foram ocupadas pelos trabalhadores em 1969, assim como nas fábricas de produtos químicos em Porto Marguera. Os sindicatos estavam divididos e a direita reagia com violência e manipulações. As fabricas se modernizaram, e o desemprego aumentava. “Potere Operaio” mudou seu nome para “Autonomia“, ala mais radical da esquerda, iniciou-se um processo de ocupações em fábricas e prédios abandonados, atos públicos, supermercados saqueados e seus bens distribuídos entre os menos afortunados. Negri foi responsabilizado pelo governo, juntamente com seus escritos, pela escalada da violência.
Nesta época, a situação política era intensa, o crescimento dos confrontos faziam polícia e manifestantes se armarem cada vez mais. Crescia o número de prisões e todos se assustavam com a escalada de violência. Os conflitos sugeriam o que muitos temiam, havia a possibilidade de guerra civil no ar. Ativistas começaram a agir de modo ilegal e secretamente, o Estado colocou tanques nas ruas.
Foi então que a Brigada Vermelha sequestrou Aldo Moro, presidente do Partido Democrata Cristão. Depois de dois meses depois seu corpo foi encontrado morto. A represália foi enorme, seguiram-se investigações sobre mais de 60.000 ativistas que resultaram em 25.000 mortos. Antonio Negri foi preso com 17 acusações: conspiração política, associação criminosa, estabelecimento de grupos armados, resistência armada contra o Estado, líder das brigadas vermelhas e cooperação no sequestro e assassinato do presidente do Partido Democrata Cristão.
As acusações contra Antonio Negri eram gravíssimas, considerou-se a possibilidade de ser condenado à morte, acabou condenado a 30 anos prisão, depois reduzidos para 18 (depois de retirarem as acusações de Líder da Brigada Vermelha e de assassinato). No cárcere, teve a chance de trabalhar em seu livro “Anomalia Selvagem” livro sobre Espinosa:
Em Espinosa eu achei razão para sobreviver, Espinosa não era apenas um estudo filosófico para trabalhar, ele era um grande intelectual com quem se pode discutir e conversar. Alguém com quem, no final se descobre que as leis, o Estado, podem colocar-me na prisão, mas o poder do ser humano, o poder da vida, sempre continua” – Antonio Negri, Eterna Revolta
Em 1983, enquanto ainda cumpria seu quarto ano na prisão, Negri foi inesperadamente eleito para o parlamento. Com a imunidade parlamentar, foi liberado, mas seu cargo durou pouco, o parlamento logo retirou sua imunidade e Negri fugiu para a França, onde vários políticos italianos haviam se refugiado nos anos 70.
Lá passou 14 anos em exílio, sem documentos. Hospedou-se na casa de Félix Guattari, que lhe emprestou os documentos de seu irmão:
A ajuda de Félix era extremamente importante, durante anos, fui chamado de Antoine Guattari” – Antonio Negri, Eterna Revolta
Durante sua estadia em Paris, Negri se interessou por um estudo mais aprofundado em filosofia. Inicialmente estudou Hegel, Marx, Gramsci, Weber, mas interessou-se pela filosofia francesa, juntamente com Deleuze e Guattari, rompendo com uma revigorando e repensando sua base marxista e dialética.
As ideias que deram base para “Império” podem ser encontradas neste período, enquanto Negri dava cursos na Sorbonne. Como pensar uma resistência ao poder que hoje é difuso, espalhado por todas as camadas sociais e em todas as áreas da vida dos trabalhadores? É preciso antes pensar, analisar detalhadamente, as estruturas de poder e controle social da era moderna.
Depois de 14 anos na França, Negri resolve voltar para seu país de origem. Ele considerava a possibilidade de anistia. Imediatamente após sua chegada, Negri foi detido pelas autoridades policiais e levado preso. Não conseguiu a esperada anistia, foi condenado a prisão domiciliar. Enquanto isso, seu livro em co-autoria com Michel Hardt é lançado nos Estados Unidos, torna-se um best-seller e é aclamado como um livro essencial para entender os movimentos e revolta no mundo globalizado.
Antonio Negri cumpriu sua pena até pouco tempo atrás em regime semi-aberto, em 2013 seu passaporte lhe foi devolvido. Não podia lecionar ou votar na Itália, mas podia viajar o mundo dando palestras. Hoje, ainda vivo, o filósofo é um dos grandes pensadores do movimento de resistência à globalização e alternativas filosófico/políticas à era comunista.