Os primeiros passos
Com nossos textos, esperamos pegar o leitor pela mão e guiá-lo para que as trilhas fechadas se tornem uma agradável caminhada. Na Ética, este caminho acelera passo a passo, passando pelos primeiros capítulos até chegar a velocidades surpreendentemente descomunais na quinta parte. Decerto, este livro é uma arma de guerra contra toda servidão, superstição, medo, isolamento, tristeza e niilismo.
Num primeiro momento, seguimos o caminho que começa em Deus e o conhecimento de sua natureza, em seguida passamos pela concatenação e a relação entre mente e corpo, tudo para finalmente deixar a servidão e alcançar a liberdade. O conhecimento dos afetos é inegavelmente a parte essencial deste percurso. E teremos como aliado a força do pensamento para regulá-los e moderá-los, buscando atingir uma perfeição cada vez maior.
Devemos, pois, nos dedicar, sobretudo, à tarefa de conhecer, tanto quanto possível, clara e distintamente, cada afeto, para que a mente seja, assim, determinada, em virtude do afeto, a pensar aquelas coisas que percebe clara e distintamente e nas quais encontra a máxima satisfação”
– Espinosa, Ética V, prop 4, corolário
A Ética não é um guia moral
Contudo, é sempre bom lembrar, o livro de Espinosa não é uma bíblia, muito menos um manual do cidadão de bem, e com certeza está muito longe de ser um livro de autoajuda. Em suma: A Ética é o livro dos homens livres onde a salvação transcendente torna-se uma salvação neste mundo, criando para si um novo modo de existir e se relacionar.
Quem tenta regular seus afetos e apetites exclusivamente por amor à liberdade, se esforçará, tanto quanto puder, por conhecer as virtudes e as suas causas, e por encher o ânimo do gáudio que nasce do verdadeiro conhecimento delas e não, absolutamente, por considerar os defeitos dos homens, nem por humilhá-los, nem por se alegrar com uma falsa aparência de liberdade”
– Espinosa, Ética V, proposição 10, escólio