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Todos esses pássaros audazes, que voam ao longe, ao mais longínquo - certamente! em algum lugar não poderão ir mais longe e pousarão sobre um mastro ou um mísero recife - e, além do mais tão gratos por esse deplorável pouso! Mas quem poderia concluir disso que adiante deles não há mais nenhuma descomunal rota livre, que eles voaram tão longe quanto se pode voar. Todos os nossos grandes mestres e precursores acabaram por se deter, e não é com gesto mais nobre e mais gracioso que o cansaço que se detém: também comigo e contigo será assim! Mas que importa isso a mim e a ti! Outros pássaros voarão mais longe! ... E para onde queremos ir? Queremos passar além do mar? Para onde nos arrasta esse poderoso apetite que para nós vale mais que qualquer prazer? Mas por que precisamente nessa direção, para lá onde até agora todos os sóis da humanidade declinaram? Talvez um dia dirão de nós que também nós, navegando para o Ocidente, esperávamos alcançar umas Índias - mas que nosso destino era naufragar no infinito? Ou, meus irmãos! Ou?"

- NietzscheAurora, §575

Escolhemos este aforismo para estrear o primeiro texto do blog. Sim, esta é nossa primeira postagem! Achamos que Nietzsche expressa muito bem o sentimento que temos ao inaugurar este espaço de reflexão.

Este é o nosso primeiro bater de asas, nosso primeiro voo, quão longe iremos? Não sabemos, mas já voamos faz um tempo. Onde queremos chegar? Não poderíamos dizer, pois não partimos com um ponto claro de chegada. Todas estas são perguntas que podem muito bem nunca ter uma resposta clara, mas não tem problema, afinal, há um mar inteiro à nossa frente!

Sim, uma “descomunal rota livre”! Sentimos a brisa marítima, e agradecemos àqueles que vieram antes de nós, que voaram longe, percorreram caminhos, abriram trilhas, mostraram Razões Inadequadas. Levamos isso em conta, é uma honra continuar de onde eles pararam. Sentimos o peso do martelo nas mãos, quantos ídolos ainda não há para derrubar? E muitas vozes se levantarão ao som das primeiras marteladas! Nós, nem os primeiros, nem os últimos a mostrar a falsidade de todos os ideais, todo absoluto.

Não não paremos por aí! Sentimos a necessidade de criar! Superamos Platão! Queremos algo novo, algo nosso, outra razão, outra verdade (ou até mesmo, nossas próprias mentiras). Nós, que cada vez mais aprendemos a amar a realidade do devir! O retorno da diferença!

Que nosso amor ao mundo fale mais alto que qualquer ideal! Trazemos uma via alternativa, um pensamento afirmativo: não queremos ser enquadrados, encaixados, normatizados, disciplinados, adequados. Que nossas asas batam com força, queremos subir alto!

Rafael Trindade

Autor Rafael Trindade

Quero fazer da vida o ofício de esculpir a mim mesmo, traçando um mapa de afetos possíveis.

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Milena Klinke
Milena Klinke
11 anos atrás

” […] amar a realidade do devir! ” Muito BOM! Lindo! =)
A vida como transformação constante, sem verdades fixas e engessamentos. E a existência segue o fluxo contínuo de mudanças e mais mudanças! Aeee!

Rafael Lauro
Admin
Reply to  Milena Klinke
11 anos atrás

Ficou realmente muito bom esse primeiro texto, parabéns!

Bóris
Bóris
6 anos atrás

Belo inicio. Tenho acompanhado o site de vocês faz algum tempo. E agora cheguei no inicio. Parabéns!

Vera Castro
Vera Castro
6 anos atrás

Também tenho acompanhado o blog. Estamos em Dezembro de 2017. Posso ver o quão longe vocês chegaram! Quantas pessoas ajudaram a filosofar a própria vida! Estão cansados de terem voado tão longe? Acho que não. Quero estar junto nas próximas milhares de braçadas, mesmo que o caminho não esteja traçado.
Ou, nas palavras de Caieiro, “vejo melhor os rios, quando vou contigo”.
Feliz Ano Novo, meus queridos Rafaeis!

Rafael Lauro
Admin
Reply to  Vera Castro
6 anos atrás

Oba! 🙂
Vamos!

Vera Castro
Vera Castro
Reply to  Rafael Lauro
6 anos atrás

Corrigindo o nome do poeta: Caeiro e não Caieiro.
Desculpem.