O Além-do-Homem não é uma superação, mas o resultado de um processo de decadência. O niilismo deve ser vencido por si mesmo. A supressão do niilismo não faz sentido em Nietzsche. O niilismo é uma qualidade da vontade de potência e, enquanto tal, ele é um meio de conhecer, de entender como as forças se relacionam, como elas podem tomar o sentido da afirmação. Nunca expiaremos do mundo o niilismo, a negação sempre estará à porta, o que lembra a ideia de Servidão em Espinosa. Os últimos homens devem descobrir a destruição ativa, que nada tem a ver com suicídio, mas com a transvaloração.
Será que o homem é essencialmente reativo? Será que o devir-reativo é constitutivo do homem? O ressentimento, a má consciência, o niilismo não são traços de psicologia, mas como que o fundamento da humanidade no homem. São o princípio do ser humano enquanto tal. O homem “doença de pele” da terra, reação da terra … É nesse sentido que Zaratustra fala do “grande desprezo” dos homens, do “grande nojo”. Uma outra sensibilidade, um outro devir, seriam ainda do homem?”
– Deleuze, Nietzsche e a Filosofia
Um devir-ativo, não sendo nem sentido nem conhecido, só pode ser pensado como produto de uma seleção. Dupla seleção simultânea: da atividade da força e da afirmação na vontade. […] O pensamento do eterno retorno elimina do querer tudo o que cai fora do eterno retorno, faz do querer uma criação, efetua a equação querer = criar.”
– Deleuze, Nietzsche e a Filosofia
Nunca a afirmação afirmaria a si mesma se, inicialmente, a negação não rompesse sua aliança com as forças reativas e não se tornasse potência afirmativa no homem que quer perecer; e, em seguida, se a negação não reunisse, não totalizasse todos os valores reativos para destruí-los de um ponto de vista que afirma. Sob essas duas formas, o negativo deixa de ser uma qualidade primeira e uma potência autônoma”
– Deleuze, Nietzsche e a Filosofia
Aqui, onde entre mares cresceu a ilha,pedra de sacrifício repentinamente erguida,aqui acende Zaratustra, sob um céu negro,seus fogos nas alturas –sinal de fogo para navegantes desnorteados,
ponto de interrogação para os que tem resposta…”– Nietzsche, Ditirambos de Dionísio