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Certo, a lógica nos mostrou que todos os acontecimentos estão implicados, a física nos mostrou que o mundo inteiro está conectado. Ou seja, os estoicos nos mostram um entrelaçamento de todos os corpos e ao mesmo tempo a nossa capacidade de compreendê-los.

Chegamos então à moral. Ela nos mostrará como podemos nos conectar a este mundo da melhor maneira possível. Sim, é exatamente esta a ideia: compreendendo o mundo, podemos nos misturar com ele da melhor maneira possível, e assim sermos felizes.

Dito de maneira simples: encontrar nosso lugar certo dentro da existência. O peixe vive bem no mar e morre na terra, a ave vive bem no ar, mas morre embaixo d’água. Pode parecer simplório, mas realmente, cada um tem uma maneira de expressar-se com plenitude. E ela não se dá apenas em nós mesmos, isoladamente, mas encontrando nosso “habitat natural”, se relacionando corretamente com as coisas à nossa volta. Enfim, nossa maneira de se expressar se aproxima da plenitude quando aprendemos misturar nossa natureza com o mundo à nossa volta.

É como disse Aristóteles, cada elemento tem o seu lugar natural. A terra, por ser o elemento mais pesado, desce, a água é mais leve que a terra, e fica pouco acima dela. O ar sobe e o fogo fica no alto. Mas os estoicos complicam a coisa. Primeiro, todos nós somos únicos, então precisamos pensar para cada ser singular. Segundo, os aristotélicos pensam em essências e imagens, já os estoicos pensam em acontecimentos, a capacidade de afetar e ser afetado.

Aí está a ética: como agir, o que fazer? A moral estoica está fundamentada na razão, no logos, na nossa crença de que o mundo é um lugar racional e podemos encontrar respostas racionais. Então o que, cada um de nós, como seres singulares, devemos fazer para expressar nossa natureza?

Este é um princípio maior do estoicismo: viver conforme a natureza! Os cínicos diziam o mesmo, e os epicuristas também. Não é naturalismo falacioso, se tudo é natureza então tudo está permitido? Não, não é isso. 

Nossa definição de natureza é clara, e vem da física estoica: uma harmonia  universal, vida que é racional e divina ao mesmo tempo, movimento de afirmação que se insere numa simpatia com o mundo ao redor.

Aí está o começo da resposta: cada um de nós tem uma natureza que se mistura à natureza exterior. E a moral tem como objetivo aprender quais são estas nossas tendências, como a nossa natureza se expressa. Definindo nossa natureza, encontramos nossas forças e também nossas fraquezas, nossas virtudes e também nossas paixões.

Mas não basta saber, em seguida, precisamos desenvolver a virtude, a força para seguir um caminho próprio, singular. A virtude tem alguns efeitos importantes, proporciona a paz de espírito, o equilíbrio, a satisfação. Estes conceitos são importantíssimos e foram criados pelos estoicos para mostrar a excelência, o florescimento do espírito daquele que encontrou seu lugar, sua perfeita manifestação de si.

A moral estoica é uma ética da virtude, da sabedoria e da força para bem encaixar-se no mundo, de maneira potente e singular, para aprender a fazer tudo tornar-se o mais conveniente possível, e misturar-se de maneira harmoniosa com a existência. A moral estoica mostra como o ser humano pode ligar-se corretamente da maneira convicta e inabalável ao mundo!

Como conclusão, dizem os estoicos, a virtude basta, e toda ética será orientada com este fim! Os estoicos definem assim vícios (paixões) e virtudes (orientações) para definir qual o melhor caminho a seguir. Para sermos felizes basta estar de acordo com a ordem universal, a infelicidade, portanto, será este desacordo, este conflito entre a parte e o todo.

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Rafael Trindade

Autor Rafael Trindade

Quero fazer da vida o ofício de esculpir a mim mesmo, traçando um mapa de afetos possíveis.

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