Nesta parte, tratarei, pois, da potência da razão, mostrando qual é o seu poder sobre os afetos e, depois, o que é a liberdade ou a beatitude da mente. Veremos, assim, o quanto o sábio é mais potente que o ignorante”
– Espinosa, Ética V, Prefácio
Antes de falar do Sábio, Espinosa escreveu sobre o néscio, o ignorante, dominado pela imaginação, cheio de moralismos, ideias confusas e preconceitos. O homem ignorante está muito longe de adquirir o conhecimento, a felicidade e a liberdade contidos na sabedoria. Primeiro, ele precisa encontrar medidas, relações, disposições que o conduzam a pensar de maneira correta.
Isso acontece lentamente, com as pequenas felicidades, que são como âncoras para o barco não afundar, são como estrelas pelas quais um bom observador pode encontrar suas referências. O segundo gênero de conhecimento cria o homem virtuoso, forte, preparado para enfrentar um mundo que parece mais disposto em entristecê-lo do que dar a ele segurança e alegrias.
Mas e o sábio? Onde está ele? Retirado talvez em alguma cabana isolada, longe da cidade e dos outros homens? Claro que não! Não falamos aqui do erudito, muito menos dos profetas! Procuramos pelo sábio e sabemos onde encontrá-lo e quais são as suas características.
O sábio, enquanto considerado como tal, dificilmente tem o ânimo perturbado. Em vez disso, consciente de si mesmo, de Deus e das coisas, em virtude de uma certa necessidade eterna, nunca deixa de ser, mas desfruta sempre, da verdadeira satisfação do ânimo”
– Espinosa, Ética V, prop. 42, esc
Ou seja, o sábio é constante, pois encontra coerência em si e nas coisas ao seu redor. Estas duas características somam-se a uma última: tudo é conveniente ao sábio, pois ele é capaz de encontrar e criar a conveniência. Os dados parecem sempre cair ao seu favor. O tripé da Beatitude são as características do sábio: coerência, constância e conveniência. Veremos cada uma delas: