Temos de produzir alguma coisa que ainda não existe e que não sabemos o que será”
– Foucault
Introdução
No ano de 1977, Foucault escreveu um prefácio para a versão americana d’O Anti-Édipo, livro de Deleuze e Guattari. Para o filósofo francês, os autores tinham conquistado em seu livro uma grande proeza: uma nova maneira de pensar e de viver contrária a todas as formas de fascismo. As palavras de Foucault, em seu prefácio, são pontos cardeais para percorrermos este livro cartográfico sem nos perdermos nos fluxos de intensidades.
Entre os anos 1945 e 1965 (penso na Europa), havia certa maneira correta de pensar, certo estilo de discurso político, certa ética do intelectual”
– Foucault
As palavras de Foucault, ainda na década de 70, soam extremamente atuais porque parece que ainda hoje vivemos sob a ditadura da razão, do certo/errado, do bom mocismo na filosofia. Parece que mesmo após maio de 68, algumas coisas permanecem. Foucault escreve então seu prefácio pensando em multiplicar o uso deste grandioso livro. Como? Trazendo um novo uso para ele! Tornando-o um guia para uma vida não-fascista! Afinal, talvez estejamos fazendo alguma coisa errada. Talvez o fascismo persista porque o combatemos de modo a o alimentarmos.
O Anti-Édipo mostra, inicialmente, a extensão do terreno percorrido. Porém faz muito mais. Ele não se distrai difamando os velhos ídolos, ainda que se divirta muito com Freud. E, sobretudo, ele nos incita a ir mais longe“
– Foucault
Relevância
Não diremos nada de novo, mas diremos o que precisa ser dito e redito continuamente! Em tempos difíceis com esses, o óbvio precisa ser relembrado! Foucault não almeja um sistema global, a sua preocupação é muito mais como uma vida que mereça ser vivida! A melhor maneira de utilizar seu pensamento é como uma arma, como uma espada, um pincel, uma guitarra distorcida, um poema!
Apoiando-se nas noções aparentemente abstratas de multiplicidade, de fluxos, de dispositivos e de ramificações, a análise da relação do desejo com a realidade e com a ‘máquina’ capitalista traz respostas a questões concretas”
– Foucault
Foucault traz Deleuze e Guattari para o primeiro plano (inclusive dizendo que o século seria deleuzeano) para mostrar a urgência de se construir uma Ética Imanente (os dois termos são quase sinônimos), sólida e potente o bastante para ser colocada no lugar da moral vigente! Uma Ética capaz de afirmar a si mesma e ao outro através dos bons-encontros! Nossa pergunta é a mesma de Foucault, Deleuze e Guattari: Como? Em vez do porquê? Experimentar em vez de interpretar!
Três Inimigos
Encontramos aqui três inimigos com os quais aqueles que procuram uma vida não fascista se confrontam: