O conceito de Empresa leva a uma nova forma de se comportar que se pauta pela concorrência infinita. Se anteriormente, com o liberalismo clássico, o princípio de Laissez Faire era colocado como ponto de partida, hoje vemos uma incitação à competição infinita.
Se antes havia a liberdade de entrar no mercado competitivo, hoje não há escolha, esta é a nossa única opção. Se o Liberalismo funciona pelo princípio de troca, o neoliberalismo age pela concorrência ilimitada, contínua, intensa.
Ora, para os neoliberais, o essencial do mercado não está na troca, nessa espécie de situação primitiva e fictícia que os economistas liberais do século XVIII imaginavam. Está em outro lugar. O essencial do mercado está na concorrência”
– Foucault, Nascimento da Biopolítica, p. 161
A Concorrência (em todos os âmbitos) é o grande objetivo da nova governamentalidade neoliberal! Ela é o princípio regulador, a pedra angular. E, não nos enganemos, a concorrência só produz seus efeitos sob um certo número de condições cuidadosamente e artificialmente preparadas. Em outras palavras: ela não é um dado natural, essencial, ela é produzida artificialmente através de um certo número de estratégias. Ela é o princípio de formalização das subjetividades.
A concorrência pura, que é a própria essência do mercado, só pode aparecer se for produzida, e produzida por uma governamentalidade ativa”
– Foucault, Nascimento da Biopolítica, p. 165
Ela é limitada e só se manifesta em dadas condições de intervenção governamental, policial e pastoral. Aqui podemos ver a mentira que engolimos diariamente. Mais mercado não significa necessariamente menos Estado. Vemos exatamente o contrário, é necessário um grande esforço estatal para que a concorrência se sustente. A concorrência nos é empurrada goela abaixo desde a mais tenra idade.
Essa norma impõe a cada um de nós que vivamos num universo de competição generalizada, intima os assalariados e as populações a entrar em luta econômica uns contra os outros, ordena as relações sociais segundo o modelo do mercado, obriga a justificar desigualdades cada vez mais profundas, muda até o indivíduo, que é instado a conceber a si mesmo e a comportar-se como um empresa”
– Pierre Dardot e Christian Laval, A Nova Razão do Mundo, p. 16
O mercado é um processo pelo qual todos nós passamos, e assim aprendemos a concorrência eterna, a competição engrandecedora e a adaptação para sobrevivência. Trata-se de uma espécie muito distorcida de darwinismo social. Fato artificial que damos como natural e nunca questionamos.
Qual a lógica? O mercado é a selva onde apenas os fortes sobrevivem! Não há espaço para compaixão ou solidariedade. Há espaço apenas para a concorrência! Onde cada um procura superar o outro numa luta incessante para tomar a dianteira e não ser passado para trás! Essa luta impregna a mentalidade de todos: imitar os que estão ganhando, tornar-se cada vez mais vigilantes, esperto, obter a capacidade de empreender mais e melhor. Em suma: subir na pirâmide social.
O objetivo é criar o maior número possíveis de situação de mercado: obrigação de escolher, calcular, entrar nas regras do jogo. O sujeito não pode se esquecer nunca de que está em um jogo, o tempo todo competindo, o tempo todo precisando provar o seu valor.
As coerções de mercado onde o comportamento do indivíduo estará submetido cria uma condição de animosidade e desconfiança contínuas. Há aqui uma quebra de todo tipo de valor social, comunitário, mútuo. A nova norma de conduta será “liberdade de escolha”, através da competição. A competição se sobrepõe à solidariedade. O tom das relações já está dado. O sujeito neoliberal, empreendedor de si, nasce neste meio, mata e morre nele.
Rafael Trindade, parabéns pelo seu texto. Acho que tudo o que foi citado ai na sua reflexão, eu estou vivendo na empresa em que trabalho no momento atual..