Talvez só possamos colocar a questão ‘O que é filosofia?’ tardiamente, quando chega a velhice, e a hora de falar concretamente”
– Deleuze e Guattari, O que é filosofia?, p. 7
O que é a Filosofia?
Do Caos ao Cais
O que é isso, a Filosofia?
“O que é filosofia?” é um livro de velhice, um livro que procura responder a uma importante pergunta: afinal, o que é isso que fazemos? Ou seja, o que é pensar? Mas também, de que modo isso se diferencia de outros campos do conhecimento como a ciência e a arte? Muitos já tentaram responder a estes questionamentos, mas poucos o fizeram de maneira tão audaciosa. Deleuze e Guattari traçam, acima de tudo, novos caminhos para o pensamento, jamais se utilizando dos clichês e respostas fáceis. Por isso precisamos tomar cuidado.
Escolhemos as imagens de Simmon Kenny para ilustrar essa série
Um livro veloz…
Afinal, o que é filosofia? É um livro de velocidades variáveis, às vezes aceleradíssimo, difícil de acompanhar e outras vezes com uma escrita clara, didática, quase apologética. Há momentos de grande beleza poética, mas também a dureza da escrita rigorosa. Ou seja, o livro se dobra, desdobra e redobra, mostrando múltiplas facetas.
Em primeiro lugar, afastando-se da opinião (doxa) e do pensamento do Verdadeiro (contemplativo), para nos levar por este caminho onde aprendemos a ousar um passo no pensamento em direção ao infinito, fazendo do pensamento uma grande aventura. De fato, queremos mais do que simplesmente opinar e contemplar, não é? Mas não é tão simples assim. Dessa maneira, se podemos dizer que pensar não é contemplar, nem refletir, nem comunicar, então só pode ser a criação de novas maneiras de pensar e viver. Em outras palavras, é necessário que as ideias voltem a ser perigosas, é necessário que as ideias voltem a clamar por novos modos de vida!
Com efeito, a intenção de Deleuze e Guattari é clara: enfrentar o caos, que a tudo caotiza e retirar dele a consistência necessária para uma vida intensa. Três são as formas de enfrentá-lo: primeiramente a filosofia cria conceitos; enquanto a ciência cria funções e a arte cria sensações. Desta maneira, nenhuma delas se sobrepõe às outras, mas podem entrar em relação. Por isso cada uma destas possibilidades de recorte do caos será devidamente explorada no livro e em textos desta série.
Nosso Objetivo:
Sobretudo, queremos pensar as possibilidades da filosofia em suas ligações com a vida cotidiana e outros campos do conhecimento. Já que o pensamento é singular, não está preocupado com o universal ou com o consenso; então tudo o que ele quer é criar, inventar, construir conceitos. Em suma, esta é a finalidade da filosofia: criação de novos modos de vida. Atividade esta cuja existência certamente só tem a se beneficiar.
Não estávamos suficientemente sóbrios. Tínhamos muita vontade de fazer filosofia, não nos perguntávamos o que ela era, salvo por exercício de estilo; não tínhamos atingido este ponto de não-estilo em que se pode dizer enfim: mas o que é isso que fiz toda a minha vida? Há casos em que a velhice dá não uma eterna juventude mas, ao contrário, uma soberana liberdade, uma necessidade pura em que se desfruta de um momento de graça entre a vida e a morte, todas as peças da máquina se combinam para enviar ao porvir um traço que atravesse as eras”
– Deleuze e Guattari, O que é filosofia?, p. 7