Nascimento de Arthur Schopenhauer
Schopenhauer nasceu em 22 de fevereiro de 1788, em um mundo prestes a se transformar completamente. Filho de um comerciante atacadista, Heinrich Floris Schopenhauer, e de sua esposa, vinte anos mais jovem, Johana Schopenhauer. Foi por muito pouco que Schopenhauer não foi um filósofo inglês, pois o casal saiu apressado de Londres de volta para a Alemanha (que ainda não era um país unificado). Filho de um rico e melancólico comerciante, pai distante e ausente, e de uma mãe apaixonada pela vida social e desapaixonada pelo marido, Schopenhauer nunca sentiu realmente o calor de uma família e a sensação de ser amado. Enquanto o pai assumia uma postura estoica com seu temperamento depressivo, a mãe se entediava e procurava apaixonadamente por encontros sociais.
Arthur herdou o brio, o orgulho, e a lucidez de seu pai. Sua altivez abrupta e fria arrogância também recebeu dele. A consciência de sua própria dignidade e seu amor-próprio tão fortemente desenvolvido não puderam ser abrandados pelo carinho materno, porque Johana tinha de fazer um grande esforço para obrigar-se a sentir amor por ele” – Rudiger Safranski, Schopenhauer e os anos mais Selvagens da Filosofia
A Família
Schopenhauer é a própria cria do tédio e do sofrimento, pois seu pai e sua mãe encarnavam estes dois sentimentos. Enquanto sua mãe queria viver sua vida, seu pai não conseguia nem mesmo viver a sua própria. Enfim, a criança chamada Arthur experimentava tudo à distância.
Em princípio, Arthur era criado com um único objetivo: tornar-se um comerciante e herdar os negócios do pai. Seu nome, inclusive, foi escolhido a dedo, pois poderia ser facilmente pronunciado em qualquer lugar da Europa. Foi mandado bem novo para passar dois anos na França, Paris, onde poderia aprender uma segunda língua e os costumes do país. Mas Arthur não parecia ter a mesma vocação do pai. Inclinado às ciências humanas desde cedo, Arthur não parecia se preocupar com os negócios da família. Foi então que seu pai lhe fez uma proposta irrecusável: Arthur poderia dedicar-se ao curso que quisesse, com plena liberdade ou, poderia partir em uma grande viagem pela Europa com sua família, por vários anos, mas quando voltasse, assumiria os negócios da família. O pequeno Arthur, com apenas quinze anos, escolheu a segunda opção.
A Viagem
A viagem começa em 03 de maio de 1803. Um prazer imediato e imenso em troca do dever vitalício. Schopenhauer sentiu-se traindo sua vocação para o pensamento, que exigia diligência e renúncia. O jovem Arthur resumiria aquela viagem por meio de uma metáfora altamente adequada escrita em seus diários de viagem: ele se sentiu como Buda, que, ao sair de seu castelo, encontrara apenas a dor, a doença, e a morte.
A Europa está mergulhado no caos, no medo, no sofrimento, na tristeza. O Terror Jacobino executara 16.594 pessoas na guilhotina. A Revolução Industrial, submetia os trabalhadores (entre eles mulheres e crianças) a jornadas de trabalho absurdas. Arthur não conseguia entender como um mundo criado por Deus podia conter tanto “choro e ranger de dentes”. Enquanto rodava a Europa em sua carruagem, via a sorte daqueles que não possuíam os mesmos recursos que sua família e eram obrigados a viver na miséria.
Mas nem tudo são lágrimas, o jovem Arthur pode conhecer toda a riqueza e esplendor cultural de seu continente. Além disso, teve grandes momentos de admiração e espanto com as mais belas paisagens por onde passava. Viu de tudo, frequentou museus, assistiu a peças de teatro, subiu montanhas, visitou bibliotecas, tudo. Esta viagem foi um dos grandes momentos de sua vida e inspirou vários dos pensamentos contidos posteriormente em “O Mundo como Vontade e como Representação”.
Depois de um ano e meio viajando pelos quatro cantos da Europa, a viagem termina. Schopenhauer sabia o que lhe aguardava, a monotonia dos estudos e o futuro em um escritório comercial. Enquanto isso, a depressão de seu pai aumenta em proporção com o mergulho de sua mãe na vida social de sua cidade. Ela não sentia-se mais presa ao destino do marido, e este não se sentia mais preso a nada.
A Morte
Na manhã de 20 de abril de 1805, Henrich Floris Schopenhauer foi encontrado morto junto ao canal que corria por trás de sua residência diante de uma pilha de mercadorias descarregadas antes do transporte para o depósito. Ele estava velho e doente e realmente não tinha o menor motivo para ir atrás do depósito e subir na pilha de fardos de que caiu ao chão. Muitos pensaram que ele havia se jogado propositalmente para cometer suicídio” – Rudiger Safranski, Schopenhauer e os anos mais Selvagens da Filosofia
A morte do pai, esta calamidade, esta catástrofe, acontecimento fúnebre e imensamente triste representava também, ao mesmo tempo, a libertação definitiva de mãe e filho. Como consequência, o luto de Arthur foi permeado por vários sentimentos contraditórios, dentre eles, culpa, alívio e tristeza. Se o pai estava morto, então a promessa não precisava ser cumprida, logo, um novo caminho se abria bem na frente de seus olhos, sua musa inspiradora: a filosofia.
De um lado o caminho de comerciante, onde o ter se sobrepõe ao ser e a monotonia espiritual abre espaço para os afazeres práticos; do outro, o caminho do pensamento, onde o ser se sobrepõe ao ter e o espírito se engrandece investigando os grandes mistérios da vida. Entretanto, ele não consegue se decidir, sente-se devedor de seu pai, preso pela promessa feita. Foi sua mãe, Johana, com o espírito bem mais leve, quem o convence de que agora ele está livre, e pode seguir para onde quiser, desde que não fique em seu caminho.
Os estudos
Arthur, com 19 anos, começa a estudar em um Liceu em Gotha, mas não se adapta bem, e é expulso depois de escrever versos satíricos sobre um de seus professores. Pensa então em continuar seus estudos em Weimar, onde a mãe reside. Ela vive uma vida de reuniões literárias e conversas despretensiosas com convidados importantes (como Goethe) em sua casa. Os problemas começam a aparecer, pois Schopenhauer sentia-se o herdeiro da autoridade do pai, e estava ansioso para colocar-se nesta posição. Sentia que sua mãe adotava uma postura vaidosa e mundana. Mas ela definitivamente não procurava por outra autoridade masculina em sua vida e prefere manter distância de seu filho.
Ainda assim, em 23 de dezembro de 1807, com quase 20 anos, Arthur Schopenhauer chega em Weimar, depois de ter aceitado inúmera condições para habitar a mesma cidade que sua mãe. Fica lá, mergulhado nos estudos com professores particulares, se preparando para entrar na Universidade de Gonttingen. Enquanto isso pode ter um vislumbre da vida que sua mãe levava depois de tornar-se viúva. Não gosta nada do que vê, o esbanjamento monetário e a ascensão de sua mãe lhe causam desespero e inveja.
Arthur entrou em Gontingen e passou dois anos nessa cidade. Lá inicia uma rotina que manterá quase inalterada até o final de sua vida. As primeiras horas da manhã eram reservadas para o trabalho intelectual, em seguida almoçava e tocava flauta. Lá apaixona-se por dois filósofos: Platão e Kant. O primeiro como o possuidor de grandes verdades e espírito iluminado pelas ideias, o segundo por sua coragem em desmanchar as ilusões da metafísica e mostrar que existe mais do que podemos organizar com nosso entendimento. Schopenhauer sente-se arrebatado pela filosofia destes dois grandes pensadores, que muito contribuirão para o desenvolvimento de sua própria filosofia.
A Desilusão
Seu amor a Kant o leva, a se matricular na Universidade de Berlim, pois queria conhecer Fitche, que era conhecido como o legítimo sucessor de Kant. Ele está com 23 anos, começa ansioso a frequentar as aulas e consolidar a sua visão de mundo, mas se desilude rapidamente. Não entende nada do que está sendo dito, tudo lhe parece obscuro, nada parecido com a filosofia crítica de Kant. O jovem Schopenhauer chega inclusive a duvidar de sua capacidade intelectual. “É isso que a filosofia de Kant se tornou?”, perguntava-se ele. Mas seu tédio e insegurança começam a dar lugar a zombaria e desprezo. Ele define a filosofia de Fitche como “charlatanice enlouquecida, totalmente sem sentido”. E afasta-se da corrente idealista que desembocará em Hegel.
Enquanto isso, a guerra napoleônica continuava. Durante este período, quase meio milhão de soldados franceses morreram tentando invadir a Rússia. Ainda assim, o sofrimento não havia acabado, Napoleão reunira novas tropas. Diante da ameaça de invasão, Schopenhauer fugiu para Weimar. Sua intenção era escrever sua tese de doutorado com tranquilidade, mas a relação com sua mãe tinha se tornado insustentável e Schopenhauer não aguenta a tensão no lar. Após enormes desentendimentos ele se retira para Rudolstadt e começa a redigir sua tese de doutorado.
Schopenhauer finalmente recebe seu título de Doutor, com a tese “Sobre a raiz quádrupla do princípio da Razão Suficiente”, mas sua obra ainda não está completa. Falar da Razão não é tudo. O pensador almeja uma obra maior, onde possa juntar Ética e Metafísica. Em 1815, com 27 anos ele anota um pensamento que mudará sua vida: “A vontade é a coisa em si”. Desta maneira, por este caminho, Schopenhauer encontrava uma filosofia que se afastava de seus contemporâneos.
O rompimento
Após a conclusão de sua tese de doutorado, Schopenhauer volta para Weimar, para casa de sua mãe. Durante este período, Johana Schopenhauer havia descoberto sua vocação: escritora, e seus romances e diários de viagem estavam entre os mais vendidos da Alemanha. Mas as brigas são constantes, sua mãe reconhece sua genialidade, mas não admite sua intolerância e arrogância. Quando um vez lhe pediram para explicar sobre o que a tese de seu filho se tratava, ela respondeu simplesmente que devia ser alguma coisa para farmacêuticos. Por seu lado, o filho recusava-se a colocar-se abaixo de sua mãe, e criticava seus romances como superficiais e condenados ao esquecimento. As brigas se tornam cada vez mais violentas até que Schopenhauer rompe em definitivo com sua mãe.
Se muda para Dresden. Lá não havia Universidade, mas já não importava, sentia que nenhum filósofo tinha nada a ensinar a ele. Ninguém o ouviu, mas ele não estava disposto a buscar desesperadamente os holofotes. Preferia trabalhar sozinho em sua grande obra. Schopenhauer foi possuído por uma febre de criação, não se importando em nada com o isolamento. Vivia uma vida monótona e regrada, seu único objetivo era causar uma reviravolta na filosofia. Nada mais importava, para ele, a sociedade era como uma fogueira, na qual pretendia apenas aquecer-se à distância. Por isso, saía pouco, tinha poucas relações, era mais temido do que admirado; mais respeitado do que bem vindo.
A Obra de Schopenhauer
Estes foram os anos mais produtivos de sua vida. Redigiu “Sobre a Visão e as Cores”, e a primeira versão de “O Mundo como Vontade e Representação“. Nesta época, começou a sofrer influência de outras fontes, como a filosofia budista, que faria parte da composição distinta em seu pensamento. A questão do desejo aparece em sua obra e começa a ganhar desenhos metafísicos. Todo sujeito é querente, ele deseja, esta é sua essência, não o pensamento.
Schopenhauer admite suas influências apenas para se colocar com eles entre os grandes. Sua filosofia não podia nascer antes de Buda, Platão e Kant, mas é ele quem dá uma resposta final ao enigma do mundo. Arthur Schopenhauer orgulhava-se de seguir outro caminho, seu próprio caminho. Com a filosofia da Vontade, se afastou completamente de seus contemporâneos, que filosofavam sobre a história. O Espírito Absoluto de Hegel progredia através das contradições e em cada síntese encontrava mais de si mesmo. Seu avanço dialético ininterrupto era nada mais que um caminho para si mesmo. A posição de Schopenhauer não pode ser mais distante da hegeliana, dizia ele:
A Vontade
A Vontade, que se encontra na base de tudo, não é absolutamente um espírito em processo de autorrealização, porém um impulso cego, incessante sem meta e devorador de si mesmo, sem deixar transparecer através de si nenhum impulso diretor, nenhum pensamento deliberado, sem seque apresentar o menor sentido. O real não está dirigido pela razão, mas inteiramente dominado por esse tipo de ‘Vontade'” – Rudiger Safranski – Schopenhauer e os anos mais Selvagens da Filosofia
Em 1818 Schopenhauer termina a grande obra de sua vida, seu livro mais importante: “O Mundo Como Vontade e Como Representação“. Lá ele desvenda o mistério da Coisa-em-Si de Kant, encontra a encarnação da Vontade nas Ideias de Platão e a salvação da vida na renúncia dos ascetas budistas. A existência é dor, porque sua essência é Vontade, seu significado é não ter significado. O mundo não busca um progresso continuado na história, ele apenas quer, sem saber o quê. Ele escreve a seu editor:
Minha obra, portanto, é um novo sistema filosófico; porém é um sistema novo no pleno sentido da palavra: não se trata de uma nova versão do que já foi apresentado por outros, mas sim um conjunto de pensamentos interligados em grau extremo, que até o presente não tinham sido conjugados por qualquer outro ser humano” – Rudiger Safranski, Schopenhauer e os anos mais Selvagens da Filosofia
Carreira Universitária
Schopenhauer esperava fama imediata depois da publicação de sua obra, mas ela não veio. Imaginou então que deveria contar aos outros sua grande descoberta. Então, depois de uma viagem à Itália, Schopenhauer inicia sua carreira como livre-docente na Universidade de Berlim. Mas havia um problema, Schopenhauer escolheu o mesmo horário que seu grande antípoda. em enquanto nas aulas de Hegel se apertavam mais de 200 alunos, na de Schopenhauer não houve mais de cinco alunos matriculados. Enquanto a filosofia de Hegel estava comprometida com a modernidade, o progresso, o futuro, a metafísica de Schopenhauer se posicionava no exato oposto, não há modernidade, não há progresso, não há futuro melhor.
A desilusão é grande, as pessoas viam a filosofia de Schopenhauer como um kantismo menor e atrasado. Se Kant estava superado, então por que escutar Schopenhauer? Ele era um filósofo que procurava requentar ideias que já não traziam nenhum interesse. Dentro do clima cultural-filosófica da época, só havia duas possibilidades: ou entendiam Schopenhauer e por isso mesmo o descartavam em nome de Hegel, ou não o entendiam, pois o que dizia já era distante do que podiam entender. O filósofo chegara atrasado ou adiantado demais, não era seu tempo. O pensamento de Schopenhauer pertencia ao passado ou ao futuro distante.
Mas o filósofo lutava em vão para desfazer este mal entendido, explicando a essência do mundo para estudantes da Universidade de Berlim em 1820. Claro que não daria certo. O curso fechou por falta de inscrições e a curta carreira de professor universitário de Schopenhauer terminou abruptamente. Isso representou uma grande catástrofe pessoal para o filósofo que carregava consigo tantas certezas e estava pronto a lutar por elas.
A Depressão
O golpe foi muito profundo. Em 1822, com 34 anos, Schopenhauer não sentia que não havia realizado nada em sua vida. Escreveu mas não foi reconhecido, amara, mas não havia sido recíproco, enfrentava inclusive um processo por danos corporais por agredir uma vizinha sua. Schopenhauer viveu uma grande crise existencial neste período: por que ninguém reconhecia sua genialidade? Por que ninguém queria escutar sobre a verdadeira essência do mundo?
Com problemas de saúde e estado psicológico debilitado, o filósofo embarcou em uma viagem de um ano para a Itália. Nesse ínterim, passa por Milão, Florença, Veneza. Afasta-se da vida intelectual, deixa de lado as querelas universitárias, procura esquecer as desilusões. Em 1825, Schopenhauer retornou a Berlim, claro que a situação não havia mudado em nada: Hegel ainda reinava como um soberano inquestionável, enquanto “O Mundo como Vontade e como Representação” acumulava poeira nos porões da editora. Schopenhauer sentia uma imensa mágoa por considerar-se injustamente ignorado.
A Fuga
Fugiu da cólera que assolou Berlim em 1831 (a mesma que mataria Hegel). Em Frankfurt estabeleceu a mesma rotina diária: dedicava as primeiras três horas da manhã à leitura e escrita. Depois disso, retirava sua flauta do estojo e praticava um pouco, normalmente alguma partitura de Rossini, Logo após era hora de almoçar. As pessoas ficavam impressionadas com o apetite do filósofo da negação da vontade. Ele podia comer dois pratos enormes e pedir por um cafezinho, retirando-se da mesa às vezes somente até às cinco da tarde.
Depois do almoço, Schopenhauer esperava fazer a digestão, normalmente conversando ou lendo jornal. Depois saía para passear com seu cãozinho poodle, Atma, que significa “A alma do mundo”. Schopenhauer era extremamente sensível aos barulhos da vida cotidiana, e temido por seus conhecidos. Possuía língua afiada e adorava um debate intelectual. Enquanto envelhecia, o filósofo aos poucos foi se tornando cada vez mais supersticioso e extremamente metódico. A idade não afetava em nada seu intelecto e seu físico, mas aprofundava seus medos e inseguranças. Por exemplo: Nada em seu escritório podia ser movido de lugar, temia que roubassem sua riqueza herdada, único recurso para viver em paz sem precisar vender-se ao mundo.
Contra Hegel
Mesmo depois da morte de Hegel em 1831, a filosofia de Schopenhauer continuava ofuscada pelo brilho do Espírito Absoluto. As edições de “O Mundo Como Vontade e Como Representação” estavam encalhadas na editora. Ao longo desse período surgiram defensores da filosofia de Hegel dos dois lados, à esquerda e à direita. Uns diziam que o espírito se realizava na monarquia prussiana, entretanto, outros defendiam que era necessário realizar a razão neste mundo, onde a liberdade somente se faria presente na prática e na luta. Ainda assim, Schopenhauer ridicularizava os dois lados, mas principalmente estes “melhoradores da humanidade” que acreditavam que o povo poderia ser conduzido e esclarecido para fazer a revolução. Enfim, não havia nada a se realizar, tudo estava consumado em uma Vontade metafísica que devorava a si mesma, mas ninguém o queria ouvir, o filósofo pessimista continuava ignorado por todos.
Quando explodiu a primavera dos povos, em 1848, Schopenhauer não teve a compaixão de que falava em seus livros, pois estava, na prática, horrorizado com a possibilidade de perder sua fortuna. Chegou inclusive a ajudar os soldados a conter os revoltosos. Toda revolução era ilusão para Schopenhauer e a natureza humana não poderia ser mudada. Mas os efeitos do pensamento de Hegel, mesmo depois de morto, ainda eram presentes.
A Fama
Como a rotina de Schopenhauer envolvia escrever todas as manhãs, em 1844, saiu o segundo tomo de “O mundo como Vontade e como Representação”, praticamente um comentário do primeiro tomo, com ampliação de vários temos, explicações de partes obscuras e esclarecimentos das principais ideias. Em 1850 saiu seu livro “Parerga e Paralipomena“, que significa Suplementos e Adornos. São escritos secundários e independentes nos quais o filósofo dedicara nos últimos seis anos. Este livro era leve, claro, em muitos momentos até mesmo engraçado e espirituoso. Schopenhauer escreveu reflexões práticas sobre a vida cotidiana, quase uma versão light de sua obra principal.
Enfim, em 1853, já com 65 anos, a vida de Schopenhauer continuava praticamente a mesma de sempre: ler e escrever, tocar flauta, almoçar com gosto, debater, descansar, cuidar de suas finanças, passear com seu poodle. Mas aos poucos ele via que algumas pessoas começavam a se aproximar de sua obra e seus pensamentos. Os tempos estavam mudando, a empolgação com o progresso arrefecera. Após as explosões de revoltas, e praticamente nenhuma mudança, o mundo finalmente estava preparado para o pensamento de Schopenhauer.
Enfim, as pessoas realmente começaram a lê-lo. O filósofo se tornava cada vez mais famoso, principalmente com uma burguesia enfadada e afundada no tédio. Em seus escritos, podemos ver um filósofo maduro, seguro de suas ideias, atento às influências e oposições, condizente com seu tempo, conhecedor profundo das ciências e da literatura, mas ao mesmo tempo capaz de se comunicar de maneira leve, direta, compreensível. Finalmente a Europa aprendia alguma coisa com Schopenhauer. Através de sua obra, o véu de Maia era rompido e era possível observar as coisas como realmente são, Vontade.
As Visitas:
Schopenhauer se transformou subitamente no ponto central do interesse público e isso não ocorreu somente no sentido filosófico, cada vez mais aumentava o número de visitantes que desejavam ser recebidos por ele” – Rudiger Safranski, Schopenhauer e os anos mais Selvagens da Filosofia
As pessoas queriam conhecer pessoalmente o Filósofo Pessimista, com seu Buda dourado na sala, com seu Poodle de estimação. Viajantes paravam em Frankfurt para conhecê-lo e Schopenhauer, sempre desconfiado e metódico, na realidade se alegrava com a fama, que tanto fora esperada. O pensador pode desfrutar da popularização de suas ideias e finalmente sua fama e reconhecimento o alcançara, diferente dos livros de sua mãe que já começavam a ser esquecidos.
O Fim de Schopenhauer
Schopenhauer morreu no dia 21 de setembro de 1860, com 72 anos, após ser acordado um pouco mais tarde que o usual por sua governanta, levantou-se e deu início à sua rotina imperturbável. Quando o médico chegou mais tarde para verificar a saúde de seu famoso paciente, encontrou o filósofo morto, reclinado no sofá, com um olhar calmo, como quem descansa após vencer uma grande batalha.