Infância
Epicuro nasceu em Atenas, em torno de 342 a.C. e mudou-se ainda criança para Samos, onde a família procurava melhores condições de vida. Seu pai, Neoclés, era professor, sua mãe, Queréstrata, trabalhava com encantamentos e rituais (o que poderíamos chamar de benzedeira). Ou seja, acompanhando sua mãe desde cedo, o filósofo teve acesso ao desespero das pessoas que temem a fortuna e o destino, e acompanhando seu pai, pôde ver a importância do ensino.
O termo Epikuros, do grego, significa “aquele que vem ao auxílio do outro”, o que virá a ser muito apropriado para a filosofia que posteriormente ele fundou. O pequeno filósofo permaneceu a infância e juventude em Samos. Sendo do período helenista, pertenceu a uma geração depois da tríade dos grandes filósofos gregos: Sócrates e Platão, que já haviam morrido, e Aristóteles, que estava na corte de Filipe da Macedônia e posteriormente foi exilado.
Aprendizado
Dos catorze aos dezoito anos, estudou matemática e física na cidade de Teos (perto de Samos) com Nausifanes, discípulo de Demócrito. Já naquela idade fazia muitas perguntas que desconcertavam seus professores. Aos 18 voltou para Atenas para cumprir os dois anos de serviço militar. Desde cedo já buscava ter suas próprias ideias, sem dedicar-se com exclusividade a algum filósofo, nem encontrar a verdade última em nenhum de seus escritos. Epicuro afirmava não ter tido outro mestre além dele mesmo, mas é inegável a importância de Demócrito em seu pensamento, com o atomismo, e dos Cirenaicos, com uma ética voltada para o prazer.
Epicuro não se fez sem mestre. Além de Nausifanes, teve vários outros, dos quais evidentemente se serviu de várias proposições, por exemplo do modo de vida sóbrio e recatado (caracterizado pela moderação) proposto por Pirro (filósofo cético)”
– Miguel Spinelli, Os Caminhos de Epicuro
Enquanto isso, Alexandre avançava rumo ao império universal, fazendo com que as cidades gregas mudassem bastante no processo. Com trinta anos, Epicuro já tinha as bases de seu pensamento constituído, mudou-se para Mitilene, na ilha de Lesbos, e fundou então sua primeira escola de filosofia. Começou a ensinar, encontrou discípulos, alguns muito ricos, outros fora dos padrões das escolas de seu tempo: mulheres e escravos. Epicuro não via porque o conhecimento deveria ser apenas para um tipo de pessoa, no caso, os mais ricos e poderosos, acreditava que todos tinham o direito de conhecer e que apenas a sabedoria poderia levar à felicidade. A riqueza, na verdade, mais atrapalhava que ajudava.
O Jardim
Cinco anos depois de fixar residência, e com ajuda de seus discípulos, Epicuro conseguiu reunir os recursos necessários para comprar uma casa com um grande jardim nos arredores de Atenas. Mudou-se então de volta para sua cidade natal e instalou-se definitivamente no lugar que ficou conhecido simplesmente como “O Jardim”. Ao chegar em sua nova residência, o filósofo também trazia consigo seus discípulos e uma filosofia constituída: o hedonismo. Já naquela época era notória a sua amabilidade e generosidade, mas era também frágil a saúde de seu corpo, por isso viveu de maneira extremamente frugal até o fim de sua vida.
“Vive isolado”
Epicuro estava cansado da vida agitada das cidades, cansado das polêmicas sofísticas, cansado da ganância, das mentiras, dos problemas inúteis. Decidiu que para alcançar uma felicidade mais sólida precisaria se retirar desta vida perturbada e encontrar um lugar mais calmo. O Jardim, sua grande casa, era perfeito para isso, lá poderia viver de maneira simples, sem nenhuma regalia, mas também sem os tormentos e inconvenientes que a vida atribulada muitas vezes trazia. Ele buscava encontros que lhe trouxessem uma alegria de viver, e isso era difícil no meio do caos metropolitano. Viver recolhido, mas nunca sozinho, realizar todas as refeições em boas companhias, ter sempre por perto seus amigos; em sua casa podia-se encontrar todo tipo de pessoas, vindos dos mais variados lugares de Atenas, todos buscando a sabedoria de Epicuro. Ele ficou conhecido por ensinar a Filosofia do Jardim.
Morte
Conforme a idade ia avançando, Epicuro se tornava cada vez mais frágil, sua saúde, ao longo dos anos mostrava-se cada vez mais debilitada. O filósofo sofria de cálculo renal, o que lhe causava muitas dores. Mas nada lhe tirava o prazer das felicidades simples que tinha na companhia de seus amigos, das conversas sobre filosofia, dos aprendizados. Estava sempre sereno, calmo e benevolente. E foi assim que deixou o jardim, para devolver os átomos que a natureza havia lhe emprestado de volta para o cosmos. Antes de morrer, fez um último pedido: “lembrem de meus ensinamentos“.
Obras
Consta que Epicuro era muito produtivo e compôs uma grande quantidade de escritos, mas infelizmente quase todos se perderam.
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- Muitas obras são polêmicas, ou seja, atacam outras escolas (contra os megáricos e os estoicos, por exemplo). Isso era comum na época, e os ensinamentos de Epicuro eram constantemente alvo de ataques e injúrias.
- Cartas: a Heródoto – Discute a Natureza, a Pitocles – onde discorre sobre a meteorologia (os céus), a Meneceu – onde trata da Ética e da felicidade humana
- Além disso temos as Principais Sentenças (ou Máximas Principais) e as Sentenças Vaticanas, encontradas nos arquivos do Vaticano muitos anos depois
Posteridade
Depois de sua morte, Hemarco de Mitilene substituiu o mestre na ‘direção’ do jardim. Mas sua filosofia pouco a pouco se espalhou pelos quatro cantos do mundo. Em Roma, Lucrécio foi um dos maiores seguidores, deixando um poema, Da Natureza, fortemente influenciado por seu mestre.
Diógenes, da cidade de Enoanda, foi outro epicurista que deu prosseguimento aos ensinamentos do mestre, mandando marcar nos muros da cidade em que morava, frases e ensinamentos do epicurismo.
A influência de Epicuro também pode ser encontrada nos Estoicos (mesmo com todas as controvérsias), como Cícero, Sêneca e até mesmo Marco Aurélio.