História da Loucura é um livro estranho, porque o seu título já engana: não é exatamente um livro de história. O melhor seria dizer que se trata de um livro de história escrito por um filósofo, o que muda tudo. Este livro é sobre a historicidade de um conceito, e isso já torna, de antemão, tudo diferente do que estamos acostumados.
A intenção do filósofo francês não é escrever uma história continuísta, progressista, como se nos primórdios tudo fosse pior e agora tudo fosse melhor. A História da Loucura se afasta da história linear cronológica.
Ora, qual seria o objetivo então? Simples, fazer um diagnóstico dos acontecimentos do passado que fizeram o presente ser (ou não ser) o que ele é hoje. Sendo assim, podemos dizer: não é um livro de história da psiquiatria ou uma história psiquiátrica da doença mental, trata-se de um livro sobre os acontecimentos que envolvem o conceito de loucura.
Deste modo, podemos dizer que Foucault realiza uma “Arqueologia da Percepção da Loucura”, ele procura pelos documentos que falam da loucura, e desta maneira acaba desnaturalizá-la, historicizá-la, mostrando que acontecimentos podem mudar radicalmente a maneira como olhamos e falamos sobre um determinado assunto.
Para isso, Foucault fará um percurso do Renascimento até a Modernidade, chegando até o momento em que o louco adquire a percepção de doente mental.
Eu encarava este livro como uma espécie de vento verdadeiramente material, e continuo a sonhar com ele assim, uma espécie de vento que arrebata portas e janelas… Meu sonho é que ele fosse um explosivo eficaz como uma bomba, e belo como fogos de artifício” – Foucault, Entrevista a Roger Paul Droit